Praticante de kitesurfe no mar de Barra Grande, no Piauí. Foto: Bruno Agostini
Saímos de manhã cedo de Jericoacoara, viajando pela beira da praia. Destino final? Lençóis Maranheses. Mas acredite: o melhor da viagem de cinco dias entre Jeri e Barreirinhas foi justamente o meio do caminho.
Depois de uma parada estratégica em Tatajuba para um mergulho, seguimos em direção a Camocim, onde mudamos de rota e pegamos o asfalto.
Rodamos cerca de uma hora até tomarmos uma estrada de terra cheia de obstáculos: nem eram buracos e imperfeições no solo, mas bois e bodes que estavam em todo o trajeto que cortava grandes fazenda repletas de cajueiros - do carro dá para sentir o aroma da fruta.
De repente, estamos numa praia deserta. Quer dizer, quase deserta, porque ao longe é possível ver algumas pipas no céu. Não são brinquedos de criança, mas praticantes de kitesurfe que descobriram Barra Grande, joia escondida no pequeno, mas formoso, litoral do Piauí. São eles principalmente, os adeptos do esporte, que estão colocando no mapa turístico esse pacato vilarejo que, entre outras atrações, nos brinda com um belo pôr do sol e agradáveis passeio pelo mangue, onde é possível avistar de peixes-boi a cavalos-marinhos.
Poucos quilômetros adiante está o município de Parnaíba, com cerca de 150 mil habitantes, uma megalópole, se comparada com Barra Grande, onde moram menos de duas mil pessoas. A segunda maior cidade do Piauí está a 170 quilômetros de Jericoacoara, e à mesma distância dos Lençóis Maranhenses. O lugar tem suas virtudes, a começar pelos passeios pelo Delta do Parnaíba, um ecossistema riquíssimo em termos de fauna, flora e cenário, com dunas, mangues, igarapés, guarás, jacarés e muito, mas muitos caranguejos mesmo. Sabe aquele que você comeu em Fortaleza? Pois foi catado ali.
Ventos, cajus e consciência ambiental embalam Barra Grande
Barra Grande: bons ventos levam praticantes de kitesurfe de outros países ao litoral do Piauí
Em um ponto equidistante entre Jericoacoara, no Ceará, e Lençóis, no Maranhão, Barra Grande, no Piauí, é distrito de um dos municípios com nome mais simpático de todo o litoral brasileiro: Cajueiro da Praia. Mas as belezas da cidade vão bem além da árvore que a batizou.
- Este é o melhor lugar para praticar kitesurfe no Brasil. Tem ventos tão bons, ou até melhores, que Cumbuco e Jeri, no Ceará, e São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte. Mas é bem mais vazio, dá para velejar tranquilo. Além disso, tem águas calmas, com boa temperatura, e uma ótima pousada - exalta o alemão Matthias Huber, de 53 anos, há dez praticante do esporte.-- Tão bom quanto, só mesmo a Ilha de Guajirú, no Ceará - conta o turista, mostrando ser um especialista em desbravar destinos emergentes, ainda pouco falados.
A pousada a que ele se refere é a BGK, sigla que significa Barra Grande Kitecamp, e é a melhor do pedaço. As outras boas possibilidade de hospedagem logo pelo nome deixam claro que o esporte é o foco principal dos turistas que visitam a região: tem a Ventos Nativos, a Rota dos Ventos, a Vento do Mar...
- Até recebemos gente que não pratica kitesurfe, mas grande parte dos que nos visitam são estrangeiros amantes do esporte - diz Franciveldo da Silva, instrutor de kitesurfe e dono do bar Recanto do Kite, na rua principal de Barra Grande, que é de areia. - Hoje já temos aqui cerca de dez pousadas, e outras dez hospedarias mais familiares. Outra possibilidade é alugar uma casa - diz Franciveldo, puxando a brasa para a sua sardinha, já que ele próprio aluga a sua residência, ao lado do bar, para turistas (para o réveillon, o imóvel, com capacidade para dez pessoas, foi reservado por R$ 2 mil, para um período de cinco dias).
Barra Grande tem aquele charme rústico dos destinos que vão despontando no mapa turístico, com ruas de areia, pousadas e restaurantes decorados com muita artesanato local, como rendas e luminárias, tapetes de fibra de taboa enfeitando e protegendo o chão, jogos americanos feitos com palmeiras. Este ambiente meio hippie está por toda a parte. Nas caixas de som do bar do Franciveldo, como também pode ser chamada a birosca, rola um reggae que embala a degustação de caipirinhas bem feitas com frutas nativas, como o caju. A trilha sonora também anuncia a proximidade com o Maranhão, a cerca de 40 quilômetros, o ritmo jamaicano é o mais ouvido.
Recanto de kite: bar para cervejas e capirinhas em Barra Grande
Vendo as ruas de areia, as pousadinhas rústicas mas confortáveis, a praia com baixíssima densidade de turistas, é inevitável pensar no futuro do lugar. Será que vai ser destruído pelo progresso, como tantos outros do nosso litoral? Será que vai ser invadido em massa por turistas?
Pode ser. Mas a população de Barra Grande parece ter uma consciência ambiental que é rara de se ver por aí. Basta conversar com eles. Crianças mostram orgulho da cultura local, adolescentes afirmam que vão manter a cidade limpa e ordenada e adultos fazem um trabalho social muito bonito. Dá gosto ver o seu Carlos do Boi Jaguará capitanear uma apresentação folclórica com a meninada, tocando canções antigas registradas apenas na sua memória prodigiosa. As letras de Carlos do Nascimento Santos (seu nome de batismo) são engraçadíssimas. As crianças cantam afinadas, e dançam com graça.
Dona Rosária é parceira no projeto. Psicóloga, Maria do Rosário Costa Miranda escolheu Barra Grande para viver. Mais que isso, para atuar: ela coordena um projeto social que agrega a comunidade em torno do bem-estar geral. Dá para ver que funciona.
- Precisamos desenvolver o turismo de forma sustentável, valorizando o trabalho das famílias, das cooperativas de artesanato, os traços culturais da população - defende Dona Rosária.
Com informações e fotos do O Globo
Edição: Proparnaíba
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