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A exploração sustentável do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba – região que é a principal produtora de crustáceos do Nordeste do Brasil – é viável, e a industrialização do produto, com aplicação de tecnologia brasileira e chilena, poderá agregar valor à atividade praticada por mais de 4,5 mil catadores que vivem da captura e comercialização de cerca de 20 milhões de unidades por ano na divisa dos estados do Maranhão e do Piauí.
Os estudos e as ações que estão sendo desenvolvidos pela Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), junto com outros parceiros, desde 2006, com vistas à estruturação e à sustentabilidade desta importante atividade produtiva extrativista, estão reunidos na publicação “Industrialização do caranguejo-uçá do Delta do Parnaíba”, que será lançada na Feira da Micro e Pequena Empresa (Fepeme), em Parnaíba (PI), que acontece de 18 a 22 de julho.
A publicação descreve, por exemplo, os experimentos que levaram à criação de nove produtos à base de caranguejo-uçá, os quais foram submetidos a testes laboratoriais, sensoriais e de aceitabilidade do paladar de mais de 300 consumidores em restaurantes de Parnaíba e Teresina (PI), Fortaleza (CE) e Recife (PE).
De acordo com o engenheiro de pesca Albert Bartolomeu Rosa, técnico da Codevasf e coordenador do projeto, ficou demonstrado que a industrialização do caranguejo-uçá é altamente viável. “Os produtos desenvolvidos no projeto piloto apresentam grande possibilidade de ampliação de mercado para o caranguejo-uçá para além das cidades litorâneas próximas às áreas de produção, e que não se restrinjam apenas a patinhas, casquinha e caranguejos inteiros”, observa.
O “Projeto piloto de industrialização do caranguejo-uçá no território da planície litorânea do Parnaíba, nos estados do Piauí e do Maranhão” contou com recursos do Ministério da Integração Nacional, por meio da Secretaria de Programas Regionais, tendo como um dos executores o Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS) e uma parceria firmada entre a Codevasf, a Fundação de Educação, Cultura e Desenvolvimento Tecnológico (Fundetec) e a Secom Aquicultura, Indústria e Comércio S.A, localizada em Luís Correia (PI) - que disponibilizou seu frigorífico e adaptou suas instalações para o desenvolvimento de tecnologia de industrialização de caranguejo.
Atendendo a rígidos padrões higiênico-sanitários exigidos pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), foram elaborados nove produtos à base de caranguejo-uçá e submetidos a testes laboratoriais, sensoriais e de aceitabilidade com consumidores.
Os catadores, que também participaram e apoiaram o projeto piloto, consideram a iniciativa de grande importância para a atividade que realizam. “Nós, como coletores da espécie, aprendemos a cuidar e a valorizar o produto. Por exemplo, não catando os caranguejos pequenos, nem as fêmeas. Isso vai ajudar a manter a nossa fonte de renda. Não queremos que aconteça aqui, como em outros lugares, a extinção do caranguejo. Esse estudo nos alerta para nossa própria sobrevivência”, explica o catador Marcos Antonio Costa.
Produção sustentável
O projeto-piloto objetivou desenvolver produtos com maior valor agregado, reduzir de forma significativa a mortalidade que ocorre ao longo da cadeia produtiva pelo aproveitamento industrial do caranguejo-uçá na própria região e, como consequência, reduzir o esforço de captura e melhorar a sustentabilidade da exploração do caranguejo-uçá. Além disso, visa incrementar a renda e a profissionalização do setor, melhorando as condições de vida das populações dedicadas a essa atividade extrativista, melhorar e garantir a qualidade sanitária dos produtos colocados no mercado, aumentar o tempo de prateleira e regularizar a oferta de produtos do caranguejo-uçá nos mercados tradicionais, além de abrir novos mercados.
Na avaliação do diretor de produção da Secom Aquicultura, Frederico Ayres, os resultados foram positivos. “O projeto é importante como incentivo para a população local se desenvolver, especialmente os catadores, e dar vazão de forma ordenada à produção, contando com melhores condições de higiene”. Para ele, a industrialização do caranguejo-uçá já é um conhecimento consolidado na empresa. “Ainda não iniciamos o processamento. Temos algumas barreiras internas e obstáculos ligados ao hábito de consumo. Precisamos direcionar os investimentos necessários para implantá-lo, mas essa ação faz parte do nosso planejamento estratégico. Acreditamos que até 2015 estaremos colocando-o em prática”, afirma Frederico Ayres.
Outras ações
Além do projeto piloto de industrialização, diversas ações já vinham sendo desenvolvidas pela Codevasf com vistas à estruturação da atividade. Em parceria com o governo do estado do Piauí, por exemplo, a Companhia construiu o Centro de Recepção e Comercialização de Caranguejos do município de Ilha Grande e promoveu o microzoneamento ecológico-econômico da Planície Litorânea do Parnaíba - junto com a Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal do Maranhão.
A Codevasf também contratou consultores para analisarem a matéria-prima, o potencial de produção de caranguejo-uçá e as instalações de processamento de pescado daquela região com vistas a avaliar a possibilidade de industrialização de caranguejo no Delta do Parnaíba. Os estudos confirmaram os problemas de mortalidade que ocorrem na cadeia produtiva do caranguejo e as precárias condições do processamento artesanal do crustáceo. Além disso, confirmou-se o potencial da matéria-prima e a existência de indústrias de beneficiamento do camarão na região em condições de processar caranguejo.
As iniciativas da Codevasf em torno desta atividade se somam a outras, do governo federal, que têm sido empreendidas com vistas a avaliar e promover a exploração sustentável do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba, como a realização de estudos de bioecologia, pesca e comercialização do caranguejo por entidades como o Ibama e a Embrapa Meio-Norte, e o ordenamento da cata do caranguejo pelo Ibama, por meio de portarias proibindo sua captura (defeso) no período de acasalamento e desova.
Condições precárias
A atividade extrativista do caranguejo-uçá, no Delta do rio Parnaíba, entre os estados do Piauí e Maranhão, emprega aproximadamente 4,5 mil catadores. São eles que, expostos a condições de trabalho muitas vezes penosas e insalubres, abastecem os mercados consumidores, principalmente bares e restaurantes de Fortaleza, no Ceará, e em Teresina e Parnaíba, no Piauí.
O trabalho é feito de maneira rudimentar. “É uma tradição familiar. Aprendemos com nossos pais e passamos aos nossos filhos”, explica Marcos Antonio Costa, 45, catador de caranguejo desde os 16 anos de idade e atual tesoureiro da Associação de Catadores de Caranguejo-Uçá. Os animais são retirados do mangue de forma manual. Para isso, os catadores ficam em contato direto com a lama por várias horas, estendendo-se no chão frio, o que ocasiona, em médio prazo, consequências nocivas à saúde. Dependendo da época do ano, são capturados cerca de 70 unidades por catador/dia, isso na época de maior produção. “No período de alta temporada, a gente consegue até R$ 600,00 por mês”, afirma Marcos Antonio. Após a coleta, os caranguejos ficam expostos ao sol, a altas temperaturas.
Esses métodos tradicionais de captura, juntamente com o armazenamento e o transporte inadequados até os revendedores finais, contribuem para uma grande mortalidade desses crustáceos, estimada entre 40% e 60%. Quando não é transportado vivo, o caranguejo é beneficiado na própria região em instalações artesanais geralmente desprovidas de condições adequadas de higiene.
SERVIÇO:
Lançamento do Livro “Industrialização do caranguejo-uçá do Delta do Parnaíba”, publicado pela Codevasf em parceria com o IABS (Instituto Ambiental Brasil Sustentável)
Local: Feira da Micro e Pequena Empresa (Fepeme), em Parnaíba
Data: 18 de julho
Fonte: Codevasf
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