Piauí: o Estado mais rupestre do Brasil, segundo o Diário do Comércio
Kleber Gutierrez | Diário do Comércio
São 66 km de costa no Estado. Barra Grande revela o cotidiano de uma comunidade de pescadores em Cajueiro da Praia. |
Uma surpresa no Nordeste, o destino combina formações geográficas indescritíveis e belas praias. Viajo há 30 anos pelo Brasil. Ainda bem jovem, decidi que só sairia do meu país depois de conhecê-lo todo. Pelo menos, ter passado alguns dias em cada Estado. Missão quase cumprida! Para fechar o Nordeste, faltava mergulhar no Piauí.
Mal podia imaginar as surpresas que encontraria por lá. O Estado é daqueles paraísos quase intocados, com história milenar, formações geográficas indescritíveis e praias capazes de encantar corpo e alma. Mas o principal achado foi seu povo acolhedor e peculiar, que tem até língua própria, devidamente documentada pela Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês. Para não dar uma “rata” (cometer uma gafe) enquanto percorrer suas trilhas, é melhor adquirir o seu exemplar.
Como sede da pátria piauiense, Teresina, a Quentecap, concentra a maior população do Estado e algumas das temperaturas mais altas do País. O bafo que envolve seu corpo logo ao sair do avião será constante na viagem. Uma delícia para quem foge do inverno no Sul e Sudeste. Mas relaxe, porque há sempre a chegada de uma refrescante brisa. Essa Mesopotâmia brasileira se orgulha dos seus dois rios, Poti e Parnaíba. Vá ver o encontro desses titãs da Caatinga. Há muito artesanato, com destaque para as peças em barro, e um delicioso restaurante flutuante. Programe-se para desfrutar do pôr-do-sol degustando peixes nativos e leve um bom repelente: após a queda da luz, você vira o prato, com a implacável chegada das "muriçocas" (mosquitos).
Ponte estaiada Mestre Izidoro, em Teresina - PI |
Arqueologia – Indo para o sul, chega-se a São Raimundo Nonato (uns 650 km de distância). É aí que começa a aventura. A cidade hospeda uma das poucas universidades públicas com formação em Arqueologia do Brasil. Não é para menos, pois é o ponto de partida para um gigantesco salto no tempo. Dali, você vai para a Serra da Capivara: lugar tido como berço do homem americano!
Boqueirão da Pedra Furada |
O fato é que a região é tomada por um dos maiores sítios arqueológicos de pinturas rupestres do planeta. Para se ter uma ideia, o Parque Nacional da Serra da Capivara possui 1,8 mil tocas com pinturas catalogadas e em estudo. E centenas de outras ainda desconhecidas. O que chama a atenção dos pesquisadores é também a qualidade dos relatos materializados na rocha.
Não são apenas cenas de caça aos animais da região, como na maioria dos sítios desse tipo. E olha que lá tem exemplares fósseis do tigre dente de sabre, da preguiça gigante, do tatu com o tamanho de um fusca e até de uma espécie de cavalo que só possuía um dedo. A Serra da Capivara traz toda uma descrição comportamental daquela sociedade que dominou a região há milhares de anos. Cenas inusitadas de sexo são recorrentes e em cores, todas usando os minerais ainda encontrados por lá. Mas vá logo, porque as rochas são porosas, e o sal que mina naturalmente também cumpre o papel de apagador dessas riquezas.
Elefante de Pedra, em Sete Cidades |
É onde você pode definir as tocas que deseja visitar, escolher quais pinturas apreciar bem de perto e ver o resultado das escavações arqueológicas feitas na serra. Se você só ouviu falar de pré-história em longínquas salas de aula, vá ver o crânio original de Zuzu, um dos machos mais antigos do homo sapiens com quase 10 mil anos, as urnas funerárias com esqueletos originais e os instrumentos criados com pedras lascadas e polidas pelos nossos ancestrais.
Selva de pedra – O Parque Nacional de Sete Cidades, a menos de 200 quilômetros de Teresina e na direção do litoral, é outra atração rochosa do Estado. Lapidadas por água e ventos fortes nos últimos 200 milhões de anos, suas formações trazem imagens inusitadas: o boi deitado, a tartaruga, o elefante... São mais 25 sítios rupestres, elaborados por outros grupos sociais e em época mais recente que os da Capivara, uma vez que os traços são mais geométricos. Não deixe de subir até o mirante, a vista vai sapecar sua mente.
Parnaíba é a segunda maior cidade do Estado e o ponto de partida para vasculhar os 66 quilômetros de litoral. É nela que se encontra a melhor estrutura de serviços da região: pousadas aconchegantes, locadoras e agências de viagens. De lá partem ônibus, motos e vans para as praias. Mas Parnaíba só possui uma, a Pedra do Sal. As outras estão nos municípios seguintes, como as badaladas Atalaia e Coqueiro, em Luís Correa, e a maravilhosa Barra Grande, em Cajueiro da Praia, uma vila de pescadores que se abre para um turismo requintado e sustentável. É possível observar cavalos-marinhos, peixes-boi e as enormes caças que o mar oferece.
Delta do Parnaíba |
As águas do Parnaíba e do Atlântico se fundem. E o oceano, apesar de manter sua correnteza forte e ondas potentes, é convidado a aceitar um pouco de doçura. A exata síntese do lugar: o povo mais aguerrido do País, te acolhe e ainda oferece o melhor cômodo da casa... Aproveite a oportunidade, peça ao barqueiro para desligar o motor, compreenda que está em um dos lugares menos tocados pela humanidade e desfrute do privilégio de se sentir ungido pelo divino, um ser especial...
Ilhas fluviais – Se isso não for suficiente, hospede-se em uma das exclusivas ilhas fluviais. Há poucas com estrutura para receber. Ou, pelo menos, almoce na Ilha das Canárias, na Pousada do Oswaldo. Desfrute do mirante, e se tiver vontade de mais um mergulho, converse com os habitantes. Eles te mostrarão onde o braço do rio permite se banhar. E, quando você estiver “eguando” (de bobeira), com a água na altura do pescoço, te dirão com a maior calma que, exatamente ali, alguém fisgou o maior cação já pego no local. Para quem não entendeu a tirada, explico: cação é o nome que se dá quando você come o peixe, quando ele te come, o nome é tubarão. Não se esqueça, você está em um ambiente selvagem. Atenção nunca é demais. E o prazer que vai sentir em terras piauienses também não. Boa viagem!
RAIO X
COMO CHEGAR
De São Paulo, a Azul (http://www.voeazul.com.br/) é a única que opera voos diretos para Teresina. Ida-e-volta a partir de R$ 728,84, com taxas. Na TAM (http://www.tam.com.br/) e na Gol (http://www.voegol.com.br/), conexão em Brasília. A partir de R$ 417 e R$ 329, respectivamente, o trecho, sem taxas.
ONDE DORMIR
Diárias variam de R$ 80 a 250 o casal, conforme a época.
Parnaíba
Pousada Vila Parnaíba: tel. (86) 3323-2781,http://www.pousadavilaparnaiba.com.br/.
Luis Correia
Islamar Hotéis de Charme: tel. (86) 3366-1165, http://www.islamar.com.br/.
Aimberê Eco Resort Hotel: tel. (86) 3366-1142,http://www.aimbereecoresorthotel.com.br/.
Cajueiro da Praia
BGK - Barra Grande Kitecamp: tel. (86) 9983-1020,http://www.barragrandekitecamp.com.br/.
Rota dos Ventos: tel. (86) 3369-8161,http://www.pousadarotadosventos.com/
Hotel Pousada Muálem: Fone: (86) 3369-8060 ou 3322-2058 - Cel. 9986-1575, http://www.hotelpousadadomualem.com.br/. (Obs.: a melhor peixada da Barra Grande)
FAÇA AS MALAS
Passeios: na Clip Ecoturismo e Aventura, Parnaíba, tel. (86) 3322-3129,http://www.clipecoturismo.com.br/.
Informações turísticas: Piemtur, Teresina, tel. (86) 3216-6414.
Edição: Jornal da Parnaíba
Nenhum comentário:
Postar um comentário