sábado, 18 de março de 2017

Excesso de ácido ascórbico utilizado em carne podre favorece formação de pedras nos rins e, possivelmente, câncer


Ao menos um dos frigoríficos investigados na Operação Carne Fraca comprava carne podre e disfarçava o sabor com ácido ascórbico, mais conhecido como vitamina C. Uma auxiliar de inspeção de uma das empresas atestou diversas irregularidades e afirmou que a substância química era cancerígena. A informação consta na decisão da Justiça Federal do Paraná. 

De acordo com a professora de nutrição da Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Anita Sachs, o ácido ascóbico, se consumido em excesso a longo prazo, pode provocar sobrecarga renal e, consequentemente, levar ao câncer.

— A quantidade máxima recomendada por dia é entre 45 e 50 mg. Isso é o que está presente em uma laranja, uma mexirica, uma fatia de mamão ou uma de manga, por exemplo. 

Em contraposição, a chefe de equipe de Nefrologia e Transplantes da Beneficência Portuguesa de São Paulo, Irene de Lourdes Noronha, explica que as únicas evidências disponíveis na medicina são de que doses altas de ácido ascórbico diariamente — 1 ou 2 g — favorecem a formação de cálculos nos rins e canais urinários em quem já tem tendência para desenvolver esse tipo de problema.

— Como a calculose renal tem grande prevalência na população, o impacto do alto consumo de carnes com ácido ascórbico seria, sim, negativo. 

Antônio Junqueira, nefrologista do Hospital São Luís, também reforça que a relação entre ácido ascórbico e formação de pedras nos rins é indireta. 

— O que acontece é que o excesso de ácido ascórbico é absorvido pelos ossos e devolvido para o organismo em forma de cálcio. Esse cálcio vai para a corrente sanguínea e chega até os rins, onde contribui para a formação dos cálculos. Mas esse é um mecanismo indireto que depende muito da predisposição genética da pessoa. 

Operação Carne Podre
A PF (Polícia Federal) está nas ruas do País nesta sexta-feira (17) para cumprir a maior operação da história da corporação. Chamada de "Carne Fraca", a ação mira a venda de alimentos adulterados e conta com a atuação de 1.100 agentes federais.

Eles cumprem 309 mandados judiciais em sete Estados brasileiros: São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás. Entre os alvos da PF, estariam executivos dos frigoríficos JBS, da BRF e da Seara.

Expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR), as ordens judiciais estão assim divividas: 38 de prisão (27 preventivas e 11 temporárias), 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em casas e locais de trabalho dos investigados e em empresas supostamente ligadas ao grupo criminoso.

Após quase dois anos, as investigações identificaram uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do agronegócio. Os agentes públicos suspeitos pertencem às Superintêndencias Regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás e atuavam diretamente para proteger grupos empresariais em detrimento do interesse público.


Fonte: R7

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