Destaque da Revista Sou mais eu, Davylla Antonely, 31 anos, a drag queen, vendedora de bombons que circula pela cidade de Parnaíba, sempre caracterizada, em entrevista à revista, conta fatos de sua vida e como entrou para o mundo do transformismo.
Moro no Piauí há 15 anos. Saí da minha cidade natal Araioses, no Maranhão, aos 16 – era um lugar pequeno demais para o tamanho dos meus sonhos. Terminei o ensino médio com muito custo, o dinheiro sempre foi pouco em casa. Queria estudar, ser independente e aprender a fazer doces, minha grande vocação. Resolvi ir para Parnaíba, no Piauí, que era a cidade grande mais próxima da minha. Na época eu não sabia, mas lá encontraria a pessoa que mudaria a minha vida: eu mesma – ou melhor, a Davylla, drag queen em quem eu me transformo para fazer um baita show.
Conheci o mundo do transformismo
Há alguns anos, tinha ótimos amigos que praticavam a arte. Eu morava sozinha e eles em repúblicas, casa cheias de gente. Por isso, tinham medo de sofrer preconceito pelos colegas serem assim, drag queens maravilhosas. No meu lar eles encontraram um refúgio. Se montavam por lá todas as noites: peruca, maquiagem e roupas tão brilhantes quanto uma noite de fogos! Fazendo shows, performances e apresentações corporativas eles faturavam uma boa grana. Ganhavam dinheiro com a transformação em drag queen!
Certo dia, um deles me desafiou, perguntou se eu teria coragem de me maquiar, vestir roupas brilhantes, colocar salto… Me transformar em drag queen como ele fazia e me apresentar. Aceitei na hora, sempre fui bem saidinha. Me maquiei e fui para o show! A sensação de estar no palco, sendo admirada por pessoas não tem preço. Me apaixonei pela arte da transformação e não parei mais: os pedidos de shows só aumentavam e eu fui gostando cada vez mais de me transformar, me senti mais eu mesma dentro do brilho que reflete nas roupas. Escolhi meu nome artístico, Davylla, e comecei carreira solo nas performances como drag queen. Hoje já sou transformista há dez anos, me visto com roupas extravagantes, bem generosas no glamour, e faço meu show: canto, danço e brilho pro mundo todo ver!
Uma receita mudou minha vida
Nunca desisti do meu sonho de trabalhar com gastronomia. Em 2015, fiz um curso de confeitaria e chefe de cozinha, capacitação que me abriu portas no mercado de trabalho. Fui contratada para trabalhar na cozinha de uma empresa, local em que fiquei cinco anos. Nesse período, parei de fazer as apresentações porque o trabalho na cozinha era muito cansativo, mas continuei me transformando em drag queen por puro prazer – a Davylla já fazia parte de quem eu era. Comecei a sentir dores fortes na coluna e ficar doente com frequência, percebi que não aguentava mais ficar o dia todo cozinhando e então pedi demissão, mesmo sem nada em vista.
Desempregada, fui em busca de algo que me ajudasse a pagar as contas. Estava assistindo as receitas da Ana Maria Braga na TV quando dei de cara com uma sobre bombons recheados. Por algum motivo, aquilo chamou minha atenção. Entre chocolates e recheios, tive a ideia de juntar as duas coisas que mais gosto no mundo: fazer doces e me transformar em drag queen. Eu já era conhecida na cidade e todo mundo me adorava. Pediam até fotos comigo! Por que não oferecer bombons feitos por mim? Comecei a fazer as receitas e testar com amigos que adoraram os doces. Havia chegado a hora de ir pra rua como a Davylla cozinheira!
Lucro R$ 1.200 vendendo bombons como drag queen
Faço de vários sabores: tradicional, coco, maracujá, abacaxi, cupuaçu… Cada um sai por R$ 2 reais. Produzo os bombons recheados durante o dia e os vendo à noite, de sexta a domingo. Saio com uma cesta de 130 unidades e fico na rua das 20h às 2h da manhã. A cesta volta sempre vazia! Saindo esse horário, encontro desde famílias que estão passeando e não abrem mão de um docinho até adolescentes que estão indo pra balada. Durante o dia também vendo bolinhos de pão de ló recheados com brigadeiro, são uma delícia! Eu mesma inventei a receita para aumentar meu faturamento. Faço os bolos sempre na noite anterior e recheio no dia da venda. Já os bombons eu faço uma vez por semana e deixo reservado na geladeira, vou colocando na cesta conforme saio pra vender.
Vendo bombons montada de drag queen há dois anos e meio. Hoje, lucro cerca de R$ 1.200 com os doces, o suficiente pra pagar as contas e me sustentar. A receita é muito boa, mas devo boa parte desse dinheiro ao meu visual! Chamo atenção na rua e as reações são muito positivas, percebo que as pessoas respeitam o meu trabalho e gostam muito de mim – as crianças então, me amam! É como se eu fosse uma boneca gigante: pedem pra tirar foto comigo, pra sentar no meu colo… Fazem uma farra só! Às vezes rola um preconceito, claro. Já aconteceu de eu dar boa noite e a pessoa não responder, me ignorar mesmo. Mas tudo bem, faz parte de qualquer negócio. O bom mesmo é que nunca mais tive dores nas costas – acho que era de estar tanto tempo fazendo os mesmos movimentos dentro da cozinha. Fazer chocolate é diferente, é uma delícia! Tudo fica bem quando a gente faz o que realmente gosta – vestindo aquilo que nos faz sentir bem e passando o amor adiante!
Fonte: soumaiseuuol.com.br
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