domingo, 3 de agosto de 2014

O pote seco de dona Mariana

Pádua Marques
Nesse final de semana aconteceu na praia da Pedra do Sal um evento importante e que se levado a sério por quem entende de políticas pro desenvolvimento do turismo bem que poderia receber todo o apoio, a etapa piauiense do campeonato nordestino de surf, promovido pela associação dessa categoria e quem tem à frente os irmãos Deodato e Fábio Silva. Digo, se levado a sério, pra cobrar das autoridades e dos nossos políticos uma posição urgente em relação ao que ali ocorre com aquela gente, moradores e a população de turistas de finais de semana.
É uma vergonha sem tamanho você sair de sua casa com a família pra dar uma passada na praia de Parnaíba e em lá chegando não encontrar um sinal de conforto. A começar pela precariedade do abastecimento de água, limpeza, segurança, transporte e acomodação em bares e restaurantes sé é que se pode chamar aquelas palhoças de restaurantes. Agora me sai lá do Cocal, Bom Princípio, Campo Maior, Piripiri, Buriti dos Lopes e outras localidades aqueles ônibus entupidos de turistas e chegando na Pedra do Sal não encontram uma nesga que seja de conforto pra excursão.


Eu vi. Ninguém precisou sair dos seus que fazer pra me contar lá em casa não. Eu vi o sofrimento do pequeno e miserável comerciante dono de bar na beira da praia padecendo com a falta de água. Eu vi mulher e menino retirando água e levando em balde pra dentro de seus modestos estabelecimentos. Eu vi a mão na cabeça de gente preocupada de como havera de limpar um copo pra servir um cliente que pediu uma cerveja. Eu vi gente colocando lixo dentro de um balde e que certamente deve ser tratado como um coletor. Havia mais lixo fora do que dentro. Ninguém me contou não, eu vi com estes olhos que infelizmente a terra há de comer.


Eu vi uma fila imensa de gente esperando um transporte pra voltar pra casa e não me lembro de ter visto um soldado pra numa eventualidade desapartar alguma briga de bêbado ou colocar ordem na desordem. Vi sim foi um cachorro pulguento dormindo numa calçada e mais lá na frente uma jumenta prenhe na porta de uma pousada ou um restaurante ou coisa que o valha. Deveria ser um serviço especial de transporte feito esses de mototaxistas. Realmente pensar algum dia num futuro remoto a praia da Pedra do Sal com cara de praia de gente chega a ser difícil.


E olhe que já faz tempo que me entendo aqui na Parnaíba, coisa de uns vinte anos. Já vi e ouvi tudo quanto é tamanho de promessa de políticos em tempo de eleição de que vão resolver estes e outros problemas da praia da Pedra do Sal e de toda a ilha. Mas é só passar a campanha e o camarada ganhar e uma pedra é colocada em cima do problema. Eu não consigo entender como é que esta situação permanece assim daquele jeito e ninguém toma uma providência. Mais parece que tem um nó de porco pelo meio. Parece que tem um rato podre sempre criando catinga.


Este problema de abastecimento de água fora outros já crônicos na Ilha Grande de Santa Isabel não deve ser coisa de agora. Deve ser coisa do tempo da velha Mariana, uma pobre lavadeira e pescadora de mariscos, a mulher que deu nome aos morros e mãe de um menino de calção encardido e muito do maluvido chamado Mandu Ladino. Esse Mandu Ladino, que andou brigando com uns padres e desafiando gente da rua Grande na Parnaíba porque quiseram fazer ele vestir uma camisa pra entrar na igreja e parar de dizer nome feio pra mãe do Simplício Dias.


Pois foi este Mandu que deu nome ao povoado Labino, onde antigamente havia muito pé de caju azedo e agora tem muito é catavento. Pelo que conta a lenda era moleque peralta que costumava sair de casa ainda pela manhã pra jogar bola de meia nas várzeas e matar sabiás e bem-te-vis na companhia dos irmãos João e Alberto, anos depois importantes políticos daqui da Parnaíba e do Piauí. Os dois filhos de doutor João Tavares foram em tempos distintos prefeitos e governador. Mas nunca ao que parece ligaram pra solução destes problemas da imensa ilha.



E essa é a situação da Ilha Grande de Santa Isabel com todos os povoados e o agora município de Ilha Grande do Piauí e que na minha opinião ainda deveria ser povoado de Parnaíba. Mas vamos continuar acreditando que os problemas daquela região um dia serão resolvidos, principalmente este do abastecimento de água. Porque se a praia da Pedra do Sal continuar daquele jeito, dona Mariana, mãe de Mandu, vai quebrar os potes, arrumar as trouxas e mudar pro bairro Piauí, do lado de cá da Parnaíba. Pelo menos aqui tem escola pra botar o menino.


(*)Pádua Marques é jornalista e escritor

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