segunda-feira, 2 de abril de 2012

Meio Norte: "Memória” faz tartarugas desovarem no litoral do PI



Foto: Tartarugas do Delta.
Trinta e seis ninhos de tartarugas foram encontrados no litoral do Piauí e nesta época do ano os ovos começam a eclodir e os filhotes saem dos ovos e dos ninhos enterrados na areia com grande dificuldade e percorrem a praia até encontrar as ondas do mar, que as levam para seu habitat natural.
As tartarugas desovam nas praias onde nasceram. Os pesquisadores acreditam que existiu um estuário onde as tartarugas que hoje põem seus ovos no litoral piauiense nasceram. “Após de 30 a 40 dias da cópula com o macho, a tartaruga vem depositar seus ovos nas areias da praia que nasceu. Os filhotes que nasceram aqui vão para o alto mar, vão encontrar área de alimentação e vão ficar vagando. São animais viajantes, que ficam migrando de um trecho para outro’’, diz a bióloga Kesley Paiva, do Projeto Tartarugas do Delta.
Ela afirma que para os filhote de tartarugas a caminhada na areia até o mar é um processo muito importante porque estão captando as informações e geneticamente conhecem identificar a praia que nasceram. Os filhotes acumulam as informações sobre a elevação da areia, as propriedades da praia e outras características do local onde nasceram para efetuarem, mais tarde, depositarem seus ovos.
“Os filhotes armazenam informações sobre as características físicas e químicas da areia e na época reprodutiva, as tartarugas retornam ao local onde nasceram pelas propriedades físicas e químicas da área de desova. Pode se char isso de memória da tartaruga”, afirma Kesley Paiva.
Há cinco anos, biólogos e engenheiros de pesca do Projeto Tartarugas do Delta, mantido pela ONG (Organização Não-Governamental) Comissão Ilha Ativa, com patrocínio da Petrobras, têm com o objetivo de conservar as tartarugas marinhas da região da APA (Área de Proteção Ambiental), em especial nos 66 quilômetros do litoral piauiense.
Os biólogos e estudantes universitários acompanham o processo de nascimento dos filhotes, cercam a área com fitas e uma bandeira do Projeto Tartarugas do Delta para a proteção dos ninhos. O projeto tem dez pessoas.
No ano passado, eles conseguiram soltar no mar 2 mil filhotes. Um ninho de tartaruga tem uma média de 100 a 120 ovos. Em um ninho encontrado na praia da Pedra do Sal, em Parnaíba, dos 120 ovos, apenas 16 filhotes não conseguiram sair sozinhos do buraco.
Para ficar adulta, a tartaruga espera 25 anos e começa a se reproduzir com uma média de 25, quando retornam para a mesma praia de nasceram e vão reiniciar o ciclo reprodutivo. Eles esperam que os filhotes saiam da areia, os colocam em uma bandeja com areia e os colocam na praia perto das ondas para evitar que sejam devorados por seus predadores como raposas, caranguejos e aves da rapina antes que entrem na água onde também enfrentarão as duras leis da sobrevivência. De um grupo de mil filhotes, um a dois sobrevivem porque os animais marinhos a devoram em busca de proteína.
As pequenas tartarugas deixam as marcas de suas nadadeira quando vão entrar na água e formam uma espécie de fila para o primeiro nado. Na hora de subirem o ninho, os filhotes sapo solidários. Um fica em cima da carapaça do outro para chegar na superfície da areia. Neste processo, alguns terminam pisoteados e não conseguem chegar até a superfície. Quando são retirados do ninho, esses filhotes aparentam fraqueza e não tem o movimento ágil. Novamente, os biólogos e o universitários do Projeto Tartarugas do Delta os socorrem e os ajudam a chegar até o mar em uma segunda chance de sobrevivência.
A coordenadora do Projeto Tartarugas do Delta, a bióloga Werlane Magalhães, com mestrado em Engenharia de Pesca pela Universidade Rural de Pernambuco, afirma que as tartarugas desovam principalmente nas praias do Arrombado, do Coqueiro, em Luís Correia, e na Pedra do Sal, em Parnaíba. Werlane Magalhães afirma que no Brasil e na costa do Piauí existe o registro de cinco espécies de tartarugas, mas as que são constantes todos os anos no litoral piauiense são as tartaruga de couro, tartaruga de pente e a tartaruga oliva. As duas que aparecem esporadicamente na costa piauiense são a tartaruga verde e a tartaruga cabeçuda. A tartaruga oliva é a menor das espécies e atinge 76 centímetros de carapaça e a tartaruga de couro é a maior das espécies e pode atingir de 500 a 600 quilos.
As tartarugas podem viver até 150 anos. No Piauí, a temporada reprodutiva das tartarugas vai de janeiro a julho. Para se reproduzir, a tartaruga sobe a areia, deposita os ovos e depois volta ao mar. Os ovos que ficaram na areia passam, em média, de 45 dias a 60 dias para ter o desenvolvimento, que resulta no nascimento dos filhotes. A tartaruga sobre a areia para depositar seus ovos 30 a 40 dias depois da cópula com o macho. Depois de deposita seus ovos na areia, a tartaruga passa dois anos recuperando energia para iniciar novo processo reprodutivo.
“A tartaruga gasta muita energia em sua saída para a praia porque ela vai caminhar. Ela tem um desperdício muito grande de energia e passa dois anos de alimentando”, afirmou Werlanne Magalhães.
Os estudantes de Biologia Edlayne de Santana, do Instituto de Ensino Superior do Brasil, Rodrigo Nunes, da Universidade Federal do Piauí, monitoram um ninho de onde foram acompanhados até o mar 117 filhotes de tartaruga pente. “Os filhotes saem do ninho com 3 a 4 centímetros”, informou Edlayne de Santana.
Meio Norte.
Fotos: Tartarugas do Delta.

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