Imagens registradas por câmeras de monitoramento da Polícia Militar mostram o momento exato da abordagem desastrosa feita por dois policiais do 5º Batalhão a uma família por volta da meia-noite do dia 25 de dezembro, que resultou na morte da menina Emilly Caetano Costa, de apenas 9 anos.
A mãe de Emilly, Daiane Félix Caetano, analisou as imagens e descreveu os momentos de terror pelos quais passou na Avenida João XXIII.
Nos vídeos, divulgados pela Polícia Civil, é possível ver que os policiais militares efetuam disparos mesmo depois de o veículo em que a família estava ter parado.
Assustada com os disparos, Daiane sai do carro carregando sua filha mais nova no colo. Neste momento, ainda sem perceber que a filha mais velha tinha sido baleada, a mulher avisa aos policiais que no veículo não há criminosos, mas apenas uma família.
Daiane relata que um dos policiais agiu de forma bastante agressiva, mesmo após observar que, de fato, se tratava de uma família. E teria xingado a mulher várias vezes, questionando por que ela e o marido não pararam o veículo assim que a viatura iniciou a perseguição.
Instantes depois, a outra filha que estava no banco de trás sai do carro e avisa à mãe que Emilly tinha sido baleada. “Nesse momento eu vou lá olhar e já vejo minha filha atirada. É o momento em que eu me desespero. Aí eu vou falar para o policial e peço socorro para as pessoas que vão passando, dizendo que minha família tá baleada”, detalha Daiane, que também foi atingida no braço, assim como o marido Evandro Costa, que foi baleado na cabeça, mas sobreviveu.
“Eu fiquei desesperada e tentando entender o porquê de tudo aquilo estar acontecendo”, relembra Daiane. Indiferente ao sofrimento da mãe de Emilly, um dos policiais chegou a ameaçar prendê-la, caso ela não se acalma-se.
Bastante abalada com a morte da filha, e revoltada com a situação que resultou na tragédia, Daiane diz que não confia na investigação conduzida pela Polícia Militar, e faz um apelo ao governador Wellington Dias (PT) para que o caso não fique impune.
Além de homicídio qualificado, os policiais envolvidos devem ser indiciados por fraude processual, já que alteraram a cena do crime, retirando os cartuchos dos projéteis disparados.
Segundo o delegado Francisco Costa, o Baretta, da Delegacia de Homicídios, os dois PMs que atuaram na abordagem cometeram um erro grosseiro, e não poderiam ter agido desta maneira mesmo que estivessem, de fato, perseguindo criminosos. “O procedimento feito pelos policiais foi uma aberração, um erro grosseiro. Mesmo que fossem bandidos, os PMs teriam que perseguir e pedir reforço policial. Quando o veículo parasse os PMs deveriam dar o comando de voz para os ocupantes saírem do veículo e deitarem no chão com as mãos para cima. Inclusive, é prevista até a posição que a viatura deve ficar, para garantir a proteção aos PMs. Eles não poderiam chegar atirando”, opinou Baretta sobre o caso.
De acordo com o advogado Marcelo Mascarenhas, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PI, os policiais envolvidos na ocorrência agiram em completo desacordo com o procedimento padrão da Polícia, que é ensinado nas academias de formação de militares. “Deveriam ter pedido reforço e feito o acompanhamento do veículo, sem efetuar disparos. Este é o procedimento ensinado nas academias, mas no dia a dia, na prática, incentiva-se outro tipo de comportamento. De forma alguma deveria ter sido efetuado disparos sem antes se identificar quem estava dentro do veículo. Não se pode fazer nenhum disparo sem se verificar que os ocupantes do veículo estão armados ou oferecem risco aos policiais. O correto seria parar o veículo, pedir que as pessoas descessem com as mãos à mostra e aguardar. Se a pessoa sair do veículo e os policiais identificarem que ela está armada, ou se ela resistir, aí os policiais devem reagir na medida da agressão sofrida. Mas já chegar disparando contra uma família dentro de um carro, que não representa qualquer ameaça, é um procedimento absolutamente equivocado, em todos os sentidos”, afirma o advogado.
Por: Cícero Portela | Portal ODia
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