A ação faz parte do Pedagroeco, projeto da Embrapa que tem por objetivo estimular o protagonismo juvenil no campo e a divulgação das experiências agroecológicas em rede nos estados de Sergipe, Alagoas, Piauí, Paraíba e Bahia, por meio de materiais multimídias. No Piauí, o projeto é coordenado pela Embrapa Meio-Norte (Teresina, PI) e conta com o apoio de universidades, institutos federais e organizações não governamentais.
A oficina trabalhou com os elementos da Pedagogia Griô associados às reflexões sobre o Direito à Comunicação. A Pedagogia Griô é uma proposta metodológica ancorada em processos educomunicativos, que busca a valorização da identidade e ancestralidade das comunidades, suas histórias de vida, saberes e fazeres tradicionais. Durante o encontro, as histórias de vida foram discutidas a partir do “fazer comunicacional”, por meio de mídias digitais e redes sociais.
Dinâmica do encontro
No primeiro dia, o grupo, composto por 36 jovens, resgatou o conteúdo do primeiro módulo, que aconteceu em agosto, no município de Pedro II (PI), utilizando a metodologia do resgate da memória afetiva. A escolha da comunidade de pescadores localizada no Delta do Parnaíba teve como propósito permitir aos jovens uma vivência de imersão. Já na chegada eles foram recebidos com um almoço com pratos típicos no Porto dos Tatus, local onde estão as embarcações que dão acesso ao Delta do Parnaíba.
Na Associação das Marisqueiras, os participantes tiveram a oportunidade de ouvir o depoimento de Dona Maria Luiza Santos, presidente da associação e marisqueira há muitos anos. Ela contou a história sobre como se deu o processo de organização da associação, falou também sobre a importância do trabalho coletivo e compartilhado, destacou a generosidade sempre presente entre os pescadores e as atividades realizadas nas feiras agroecológicas que acontecem no Campus da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).
Para Antoniel Guimarães, estudante da Escola Família Agrícola do município São João da Varjota (PI), o relato de Dona Maria Luiza Santos trouxe novos conhecimentos que contribuíram para enriquecer a sua cultura. Para ele, foi importante perceber a generosidade e o espírito solidário existentes entre as participantes da associação das marisqueiras, por exemplo.
Depois da visita, já na comunidade do Torto, instalados nas casas dos moradores locais, os jovens foram convidados a escolher sete temas para realizarem suas produções audiovisuais. O desafio era relatar suas próprias histórias ou a dos moradores da localidade, por meio de áudios e vídeos. O primeiro passo foi elaborar o roteiro para as gravações que seriam realizadas por meio de celulares.
Após uma rodada de perguntas, dinâmica ancorada na Pedagogia Griô, questões como a criação da reserva extrativista, respeito à diversidade, agroecologia e cultura popular foram exemplos de abordagens trazidas pelos jovens que buscaram valorizar as narrativas e as muitas identidades da juventude brasileira.
Para uma das facilitadoras, Magda Cruciol, da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), realizar esse trabalho a partir da Pedagogia Griô permitiu uma sintonia grande entre os jovens, o que se traduziu em uma produção bem feita, com narrativas claras e concisas e apresentações de alto nível, tanto estético como de histórias interessantes.
“O grupo brilhou”, afirmou Magda, lembrando que as produções realizadas pelos jovens a partir de filmagens pelo celular incluíram também outras narrativas como a literatura de cordel, manifestações folclóricas e valorização das tradições populares, como o Reisado de Boa Hora, uma manifestação cultural que existe há mais de cem anos na região.
PedagroOscar
Com uma festa criativa, inspirada na tradição do Oscar, o “PedagroOscar” ocupou a noite de sábado da Comunidade do Torto. Após a finalização dos trabalhos de produção audiovisual, os jovens convidaram os moradores para uma sessão de cinema onde os filmes foram exibidos para uma plateia de aproximadamente 40 pessoas. Atuando como “jurados”, os próprios jovens, deixando de lado o espírito de competição, e, a partir de um olhar cuidadoso para escolher a melhor produção, indicaram o melhor trabalho da noite: um filme que conta a história de vida e superação da jovem Edilene Lima que foi elaborado incluindo a literatura de cordel como fio condutor.
“Foi uma experiência muito significativa. Pude confiar nos colegas e colocar um pouco da minha trajetória de vida em Campo Maior, no Piauí, e em Brasília”, relatou a jovem.
Com a palavra, os participantes:
“O encontro representou um momento de muita renovação, desafios e superação. Realmente não vejo outra palavra para descrever o nosso encontro, além de amor. Amor pelo próximo, pela agroecologia, pela ancestralidade, pela comunidade, com respeito à diversidade, aos pensamentos diferentes e na forma de lidar com o outro”, disse uma das participantes ao avaliar o evento.
No Estado do Piauí, o Pedagroeco é uma realização da Embrapa em parceria com as seguintes instituições públicas e organizações não governamentais: Rede Piauiense de Agroecologia (ArREPIA), Ponto de Cultura Grãos de Luz e Griô, Terral Coletivo de Comunicação Popular, Associação Regional das Escolas Família Agrícola do Piauí, Instituto ComRadio, Rede de Núcleos de Agroecologia do Nordeste (Renda), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Secretaria de Desenvolvimento Rural do Piauí, Emater-PI, Centro Vocacional de Agroecologia e Produção Orgânica do IFPI de Campo Maior, Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Campus em Parnaíba (NEA Cajuí).
O projeto envolve organizações, movimentos e redes do Nordeste, em afinidades com os temas da agroecologia, convivência com o Semiárido e direito à comunicação. Além disso, utiliza como referencial metodológico a Pedagogia Griô para facilitar uma produção multimídia com enfoque agroecológico. Além do Piauí, os estados participantes são Alagoas, Bahia, Paraíba, Pernambuco e Sergipe.
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