sábado, 29 de março de 2014

Doações para vítimas de enchentes estão em depósito no Piauí desde 2008

Milhares de famílias perderam tudo com as cheias na Região Norte do país. Enquanto isso, milhares de colchões, lençóis e toalhas se acumulam em um depósito de Teresina. São doações enviadas em 2008 para as vítimas das enchentes no Piauí.
O material está no depósito da Companhia Nacional de Abastecimento, em Teresina, há quase seis anos. São sete mil colchões, dez mil lençóis, oito mil cobertores, nove mil toalhas e três mil filtros.

 Os produtos, avaliados em cerca de R$ 3 milhões, foram enviados pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil para as vítimas das enchentes de 2008 e 2009 - as maiores dos últimos 25 anos no Piauí. Na época, 61 municípios decretaram situação de emergência. Desde então, não houve outra grande enchente no estado.

A Secretaria Estadual de Defesa Civil, responsável pelo material, declarou que tudo ficou guardado porque trata-se de um excedente - que, pelas regras só, deve ser usado em outra emergência.

Uma explicação difícil de ser compreendida por quem ficou desabrigado na época e não recebeu nada daquilo que está no depósito. É o caso de Raquel Araújo, que vive em uma casa que não tem um filtro e a água é armazenada em garrafas pet. Ela é vítima da enchente de 2008.

“Eu fiquei três meses em um abrigo, não ganhei colchão, não ganhei nada, filtro, nada”, lamenta a dona de casa.

A Conab, que apenas faz o armazenamento, já solicitou à Defesa Civil Nacional a retirada dos produtos. “O nosso temor é que possa acontecer um princípio de incêndio ou sei lá, outra coisa que possa vir a danificar ou prejudicar esses produtos que aqui estão”, afirma o superintendente Manoel Borges.

“Se abril não houver nenhuma enchente, e torcemos por isso, nós vamos entrar em contato com a Defesa Civil Nacional para colocar esse pequeno estoque à disposição deles”, diz o secretário de Defesa Civil Ubiraci Carvalho.

Raquel lamenta esta situação. “É triste ver colchões amontoados em um canto se estragando e tendo filtro, e tendo gente que precisa para doar, porque não doar?”, diz.

Segundo a Defesa Civil Nacional, o material enviado ao Piauí pode ser usado em qualquer situação de emergência e não apenas em casos de enchentes.

Leia o comentário de Alexandre Garcia sobre o assunto:

É a regra nacional da cultura do desperdício, da burocracia, da falta de iniciativa, do descaso.

Doações para uma emergência que espera seis anos - até agora. Sete mil colchões, com lençol e cobertor: quanta gente precisou nesses seis anos, quanta gente sofreu naquele abril de 2008 com a cheia do Rio Parnaíba, quando se mobilizou o país inteiro para fazer chegar a Teresina o auxílio aos desabrigados. O auxílio que agora pega poeira, traça, e não chega ao Acre, por exemplo, com três mil filtros para dar água potável a quem não tem.

 Tudo isso é responsabilidade de gente que por seis anos deu as costas para a solidariedade e a caridade; gente que manteve o firme propósito de manter as doações fora do alcance de quem necessita. Como se deve chamar uma atitude dessas? Assim como falta a Rondônia, ao Pará, ao Acre, faltou em dezembro e janeiro no interior do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, por causa de chuvas.

Dirão que poderia ser pior: lembram-se dos desvios de doações em Santa Catarina em 2008, Alagoas em 2010 e Região Serrana do Rio? É outra regra, a do des: desonestidade desumana, que ainda não pegou esse estoque do Piauí - que ainda pode ter serventia. Depois dessa reportagem, digamos, preventiva.
Globo/ Bom dia Brasil

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