Milhares de famílias perderam tudo com as cheias na Região Norte do país. Enquanto isso, milhares de colchões, lençóis e toalhas se acumulam em um depósito de Teresina. São doações enviadas em 2008 para as vítimas das enchentes no Piauí.
O material está no depósito da Companhia Nacional de Abastecimento, em Teresina, há quase seis anos. São sete mil colchões, dez mil lençóis, oito mil cobertores, nove mil toalhas e três mil filtros.
Os produtos, avaliados em cerca de R$ 3 milhões, foram enviados pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil para as vítimas das enchentes de 2008 e 2009 - as maiores dos últimos 25 anos no Piauí. Na época, 61 municípios decretaram situação de emergência. Desde então, não houve outra grande enchente no estado.
A Secretaria Estadual de Defesa Civil, responsável pelo material, declarou que tudo ficou guardado porque trata-se de um excedente - que, pelas regras só, deve ser usado em outra emergência.
Uma explicação difícil de ser compreendida por quem ficou desabrigado na época e não recebeu nada daquilo que está no depósito. É o caso de Raquel Araújo, que vive em uma casa que não tem um filtro e a água é armazenada em garrafas pet. Ela é vítima da enchente de 2008.
“Eu fiquei três meses em um abrigo, não ganhei colchão, não ganhei nada, filtro, nada”, lamenta a dona de casa.
A Conab, que apenas faz o armazenamento, já solicitou à Defesa Civil Nacional a retirada dos produtos. “O nosso temor é que possa acontecer um princípio de incêndio ou sei lá, outra coisa que possa vir a danificar ou prejudicar esses produtos que aqui estão”, afirma o superintendente Manoel Borges.
“Se abril não houver nenhuma enchente, e torcemos por isso, nós vamos entrar em contato com a Defesa Civil Nacional para colocar esse pequeno estoque à disposição deles”, diz o secretário de Defesa Civil Ubiraci Carvalho.
Raquel lamenta esta situação. “É triste ver colchões amontoados em um canto se estragando e tendo filtro, e tendo gente que precisa para doar, porque não doar?”, diz.
Segundo a Defesa Civil Nacional, o material enviado ao Piauí pode ser usado em qualquer situação de emergência e não apenas em casos de enchentes.
Leia o comentário de Alexandre Garcia sobre o assunto:
É a regra nacional da cultura do desperdício, da burocracia, da falta de iniciativa, do descaso.
Doações para uma emergência que espera seis anos - até agora. Sete mil colchões, com lençol e cobertor: quanta gente precisou nesses seis anos, quanta gente sofreu naquele abril de 2008 com a cheia do Rio Parnaíba, quando se mobilizou o país inteiro para fazer chegar a Teresina o auxílio aos desabrigados. O auxílio que agora pega poeira, traça, e não chega ao Acre, por exemplo, com três mil filtros para dar água potável a quem não tem.
Tudo isso é responsabilidade de gente que por seis anos deu as costas para a solidariedade e a caridade; gente que manteve o firme propósito de manter as doações fora do alcance de quem necessita. Como se deve chamar uma atitude dessas? Assim como falta a Rondônia, ao Pará, ao Acre, faltou em dezembro e janeiro no interior do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, por causa de chuvas.
Dirão que poderia ser pior: lembram-se dos desvios de doações em Santa Catarina em 2008, Alagoas em 2010 e Região Serrana do Rio? É outra regra, a do des: desonestidade desumana, que ainda não pegou esse estoque do Piauí - que ainda pode ter serventia. Depois dessa reportagem, digamos, preventiva.
Globo/ Bom dia Brasil
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