sábado, 5 de outubro de 2013

Dunas móveis ameaçam cidades no Delta do Parnaíba

Dunas se movem com a areia levada pelo vento em direção ao Delta do Parnaíba e destroem casas. Moradores não sabem quanto tempo ainda poderão ficar no local.

Dunas, manguezais, praias, cidades. No Delta do Parnaíba, um embate constante entre o homem e a natureza. As cidades avançam sobre as áreas de floresta nativa. Habitat de uma fauna ainda desconhecida, que vamos tentar encontrar com a ajuda de pesquisadores. Eles instalam redes durante a noite, para capturar pássaros de madrugada.

São mais de 500 metros de rede. Biólogos estão fazendo um levantamento das aves do Delta. A técnica permite que eles capturem pássaros que normalmente não são vistos durante o dia. Ao amanhecer, é hora de verificar a rede. E logo surgem os primeiros pássaros.


Confira o vídeo do Globo Repórter

Biólogo: É uma Choca Barrada. É um pássaro pequeno, de penas pretas e brancas. Com os olhos bem vermelhos. Para quem mora nas cidades, é um pássaro bastante raro.  ”Você não vai ver na cidade. Por mais arborizada que for a cidade, você não vai encontrar”, conta um ornitólogo.

Outros são ainda mais desconhecidos. ”É um bicho típico de mata, então muitos deles não tem um nome popular”, diz o ornitólogo.

Um outro é da maior família de pássaros do mundo, os tiranídeos, com 400 espécies diferentes. Um outro pássaro é o formigueiro. Ou papa-formiga. É muito pequeno. E também só vive neste ambiente. “Ele não costuma sair de áreas fechadas”, explica o ornitólogo. As áreas são o maior viveiro de pássaros do Delta.

”O habitat delas é justamente este tipo de vegetação, que é quase impenetrável. Eles tem preferência por este tipo de ambiente”, explica o ornitólogo.

São as aves que ninguém vê. E já estão ameaçadas. Sem poder crescer sobre o mangue ou sobre as dunas, as cidades do Delta crescem justamente sobre o habitat das aves. São as áreas de maior valor. “É a própria pressão imobiliaria. Estas áreas a tendencia é serem todas loteadas. Então injustamente estas áreas seriam o ambiente de maior biodiversidade”, conta o ornitólogo.

O sol já sobe no horizonte e os pesquisadores procuram um lugar na mata para terminar o trabalho. Eles conferem as espécies. Fazem anotações. E anilham os pássaros com identificação e local onde foram encontrados. Depois, são fotografados e pesados. Alguns tem pouco mais de 10 gramas. Um a um, eles voltam para à natureza. A Choca Barrada, o Canário do Mato, o Papa Formiga e muitos outros. A pergunta é: até quando irão resistir?

Perto dali, a natureza dá o troco. Até quando? É também pergunta que muitos moradores do Delta fazem. As dunas estão avançando. Invadindo a cidade. E eles não sabem quanto tempo ainda poderão ficar por aqui.

Dona Joana Preta está preocupada. “Eu me mudei de lá, para cá e o morro me botou para correr. Agora tô aqui e tô preocupada de novo que ele vai me botar pra correr de novo. Eu não sei. Deus aí é quem sabe”, conta dona Joana Preta.

Muitos moradores derrubam as casas e tentam reutilizar o que sobra do material. “Agora onde eu morei é só morro só. Tudo é morro”, conta dona Joana.

Globo Repórter: Não tem mais casa? Cobriu tudo?

Dona Joana Preta: Tudo, tudo, tudo. Até a ruazinha ele já tomou de conta.


A beirada da pista que dona Joana falou é na margem da estrada asfaltada. Ela vivia ali, com mais 12 famílias. A duna soterrou todas as casas e eles foram afastados desse local. Todas as casas foram destruídas com o avanço das dunas. São famílias que construíram as casas com muito sacrifício. As poucas tentativas de conter as dunas não deram em nada.

As dunas que se movem com a areia levada pelo vento estão avançando em direção ao Delta do Parnaíba. Um canal que antes tinha mais de oito metros de profundidade, agora tem menos de três metros.

Edição do Jornal da Parnaíba | Fonte Globo Reporte

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