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O Delta do Parnaíba e as praias do Piauí, como Luís Correia e Cajueiro da Praia, não estão imunes a esse processo. Pesquisadores da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), liderados pela Dra. Maria Gardênia Sousa Batista, que pesquisa algas na região há pelo menos 25 anos, já observaram a chegada de espécies dos gêneros Sargassum e Cladophora nessas áreas. Trata-se de um alerta que conecta a realidade local a um fenômeno global.
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Pesquisadoras visitando praias piauienses. Dra. Maria Lannari (UFRG) - de preto; Eng.Amb. Paula André - de azul e: Dra Gardênia Batista (UESPI). Foto: Arquivo pessoal Dra. Gardênia Batista.
Segundo a Dra. Marianna Lanari, do Instituto de Oceanografia da Universidade do Rio Grande, essas algas de deriva podem desempenhar papel ecológico positivo, funcionando como refúgio e fonte de alimento para organismos marinhos. Mas, em excesso, formam conglomerados espessos que alteram a dinâmica costeira, reduzem a entrada de luz na água, geram condições de anóxia (falta de oxigênio) e liberam compostos tóxicos, inclusive gases de efeito estufa.
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Algumas das algas encontradas já correspondem a espécies da massa flutuante. Fonte: Arquivo pessoal (Dra. Gardênia Batista) |
Casos como a “Maré Verde” de Qingdao (China, 2008) ou os acúmulos de algas na Bretanha (França, 2009) já mostraram o potencial de causar prejuízos à pesca, ao turismo e à saúde pública.
Por que o Piauí está em risco?
O litoral do Piauí é pequeno em extensão, mas de enorme relevância ambiental e econômica. O Delta do Parnaíba, único delta em mar aberto das Américas, é berçário de inúmeras espécies marinhas e importante atrativo turístico. A chegada massiva de sargaço poderia impactar:
- Ecossistemas sensíveis: os bancos de algas competem com a vegetação aquática local, sufocando habitats costeiros e alterando a biodiversidade;
- Pesca artesanal: redes podem ficar obstruídas, e espécies de interesse econômico sofrem com a degradação de seus refúgios;
- Turismo: praias cobertas por algas em decomposição perdem sua atratividade, além do mau cheiro gerado pela liberação de gases como o sulfeto de hidrogênio (H₂S);
- Saúde pública: a decomposição libera compostos que podem provocar dores de cabeça e problemas respiratórios em populações costeiras.
Os fatores que intensificam esse fenômeno estão relacionados às mudanças climáticas: aumento da temperatura da água, alteração do regime de chuvas, maior aporte de nutrientes e acidificação dos oceanos.
O monitoramento realizado por equipes locais já aponta a necessidade de maior atenção. Tanto a comunidade científica quanto órgãos ambientais devem atuar em conjunto para acompanhar a dinâmica das algas e propor soluções.
Uma ameaça real para o Piauí
O avanço do cinturão de sargaço no Atlântico é um lembrete de que fenômenos globais não respeitam fronteiras. O litoral piauiense, embora pequeno, possui grande vulnerabilidade diante desse risco. O Delta do Parnaíba, com sua biodiversidade singular, e as praias turísticas da região podem sofrer impactos ecológicos, sociais e econômicos significativos se o fenômeno se intensificar.
Por isso, ciência, políticas públicas e conscientização da sociedade precisam caminhar juntas. O mar de algas que se aproxima pode ser tanto uma ameaça devastadora quanto uma oportunidade de inovação sustentável. O futuro do nosso litoral depende das escolhas que fizermos agora.
Por Francisco Soares Filho | cidadeverde
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