Articulação da candidatura governista ao Karnak foi construída sem uma base sólida
A candidatura governista ao Palácio de Karnak começou a ser trabalhada pelo ex-governador Wilson Martins (PSB), quando ainda era o comandante do executivo estadual, no início de janeiro de 2014.
Após dar uma ‘tratorada’ nos seus até então aliados petistas, Wilson Martins os jogou para a oposição e deu um ultimato aos partidos que marchariam junto com ele.
O Partido Progressista (PP), do senador Ciro Nogueira, que já havia abandonado o barco, ao entregar o comando da Agespisa, se uniu ao PT, expulso do governo, e ao PTB, do senador João Vicente Claudino, que comandava a Secretaria do Turismo e outras pastas.
Wilson Martins, que também é o presidente estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB), começou a articular uma chapa governista para colocar na rua, em contraponto à chapa que já tinha Wellington Dias como pré-candidato.
O governador convocou uma ampla reunião em sua residência, no dia 08 de janeiro de 2014, que contou com a participação de Zé Filho (PMDB), então vice-governador do Estado, Marcelo Castro (PMDB), Sílvio Mendes (PSDB), Hugo Napoleão (PSD) e Heráclito Fortes (PSB), buscando formar e consolidar uma chapa governista.
Dessa reunião, Wilson Martins, que era tido como exímio estrategista político, montou a chapa, que, no seu entendimento, era tida como a ideal. Marcelo Castro seria o candidato ao governo, com Sílvio Mendes de vice e o próprio Wilson candidato ao Senado. Nos planos de Wilson Martins, o vice-governador Zé Filho assumiria o governo em 05 de abril, e conduziria o processo de acordo com o que ele havia planejado. Era lançada assim a primeira chapa completa à corrida eleitoral, nove meses antes das eleições.
Na condição de vice-governador do Estado do Piauí, Zé Filho não teve o mesmo prestígio de Wilson Martins, quando este era vice de Wellington Dias. O petista deu ao seu vice a coordenação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Piauí, o que deu grande publicidade à imagem daquele que seria o futuro governador e candidato à reeleição. Mas Wilson Martins não deu o mesmo tratamento ao seu vice-governador. Zé Filho foi esquecido dentro do governo, e até no momento em que seu nome deveria ser lembrado, quando tratou-se da sucessão estadual, ele foi jogado para escanteio.
Com a sua chapa governista formada, Wilson Martins passou a trabalhar o nome de Marcelo de Castro, que começou a participar das solenidades previstas na agenda do governador pelo interior do Estado. A articulação de Wilson Martins causou desconfiança na imprensa e no meio político, que queria ouvir a opinião de Zé Filho, sobre a possibilidade de ser governador e não concorrer à reeleição.
Nesse momento começaram a surgir as articulações para compensar o ‘prejuízo’ de Zé Filho. Marcelo Castro, que por ser pré-candidato ao governo, iria colocar seu filho, Castro Neto, secretário da Infra Estrutura, para ser candidato à Câmara Federal, resolveu voltar atrás para que Zé Filho indicasse alguém de sua confiança para a ‘vaga’ de Marcelo.
Zé Filho então ‘some do mapa’, primeiro para tratar de um problema de saúde na sua perna esquerda, passando duas semanas em Fortaleza (CE). Posteriormente, ele se recolhe em sua fazenda no litoral do Estado, e evita falar sobre a sucessão estadual. A imprensa do Piauí passa a cobrar um posicionamento do provável futuro governador do Estado, sobre o que ele acha da articulação planejada pelo governador Wilson Martins. Zé Filho ressurge e declara sua total adesão ao que foi planejado, prega o seu desapego aos cargos, e garante que vai apoiar o deputado Marcelo Castro.
Surge então a dúvida sobre a saída ou não de Wilson Martins para sua candidatura ao cargo de senador. Tudo isso por conta da desconfiança sobre o comportamento de Zé Filho, ao assumir o governo. Mas mesmo com as especulações de que Wilson Martins permaneceria no cargo, para garantir a candidatura de Marcelo Castro, ele decide passar o bastão para Zé Filho, que assume o cargo no dia 04 de abril de 2014.
A partir desse momento, Wilson Martins sai de cena, e Zé Filho começa a trabalhar para viabilizar o seu nome como candidato à reeleição. O agora governador Zé Filho começa a cutucar o pré-candidato da base com postagens de charges em seu Instagram, onde deixa a entender que ele será candidato a reeleição. A mais emblemática é a postagem do dia 1º de abril, dia da mentira, quando na charge aparece o governador Zé Filho afirmando “não serei candidato”, mas, ressaltando isso exatamente no dia da mentira.
Ao assumir o governo do Estado, Zé Filho começa a dar sinais de que suas pretensões são a reeleição, e demonstra um certo estremecimento da sua relação com Wilson Martins, pois nunca declarou abertamente que ele seria seu candidato à reeleição. Para aumentar ainda mais o seu leque de justificativas para ser candidato, Marcelo Castro não mostra resultados satisfatórios nas pesquisas eleitorais, tendo sido ultrapassado também pelo ex-governador Mão Santa, tio de Zé Filho.
Uma central de boatos espalha que Zé Filho realmente será candidato e que fará Marcelo desistir da candidatura. A cúpula do PMDB decide se reunir na casa do governador para resolver a situação, e alinhar o partido no dia 05 de maio. Ao final da reunião, na qual participaram as principais figuras do partido, Marcelo Castro, Kleber Eulálio, Themístocles Sampaio, Mauro Tapety, João Henrique Sousa, João Madison e Ana Paula, é anunciado que Marcelo Castro continua sendo o candidato. Porém, o governador não se pronuncia.
Zé Filho resolve reabrir o Albertão para as finais do campeonato piauiense, com portões abertos. Nestas aparições públicas, com a presença de Marcelo Castro, Wilson Martins e outras figuras políticas, surgem faixas de incentivo à candidatura de Zé Filho - “A gente não é mané. A gente quer o Zé” e “Ei, Zé, o povo te quer”. As faixas são expostas no Albertão, na primeira partida da final. No segundo jogo, surgem os bonecos com semblante que lembra o governador, vestindo a camisa “bote fé no Zé”.
O fim da linha para o pré-candidato Marcelo Castro foi quando ele declarou que a convenção do PMDB, que iriam proclamar a candidatura oficial do partido, seria realizada logo nos primeiros dias do prazo estabelecido pela justiça eleitoral. Discordando da opinião do presidente do PMDB, o governador Zé Filho declarou que “quem tem prazo, tem tempo”, e que as convenções deveriam ser realizadas apenas no último dia. Após essas declarações, a convivência entre Marcelo e Zé Filho ficou insustentável, e a imprensa começou a noticiar que Zé Filho iria declarar que, de fato, seria candidato à reeleição, e Marcelo Castro deveria anunciar a sua desistência.
No início da tarde desta segunda-feira, 02, Marcelo Castro convocou a imprensa e anunciou que estava deixando o caminho livre para o governador. Marcelo declarou ter sido boicotado dentro do partido, e que foi “injustiçado”. Marcelo declarou que marcha junto com Sílvio Mendes, que ainda não anunciou se realmente será candidato. Zé Filho declarou que agora é o pré-candidato e que ainda buscará o apoio de Marcelo Castro. A partir de agora, o processo eleitoral, que estava quase que completamente definido, com as chapas de situação e oposição formadas, toma novo rumo, destruindo tudo aquilo que foi ‘estrategicamente construído’ pelo ex-governador Wilson Martins.
Por: Sérgio Fontenele\Capital Teresina
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