terça-feira, 12 de novembro de 2013

Codevasf apoia industrialização do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba


A industrialização do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba é uma das alternativas para estimular a exploração sustentável e agregar valor ao produto final, beneficiando os mais de 4,5 mil catadores que vivem da captura e comercialização da espécie na divisa dos estados do Maranhão e do Piauí. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) – em parceria com outras instituições – apoia a estruturação da cadeia produtiva com ações que buscam o desenvolvimento sustentável da atividade.

“Após reuniões realizadas com catadores de caranguejo e com responsáveis por empresas de processamento de pescado da região, a Codevasf implementou projeto-piloto para a industrialização do caranguejo-uçá, na própria região do Delta, onde foram desenvolvidos produtos, que foram testados em restaurantes de Fortaleza (CE), Recife (PE), Parnaíba e Teresina (PI). Além de altamente viáveis técnica e economicamente, os produtos apresentaram ótima aceitação entre consumidores de estabelecimentos onde foram experimentados”, destaca o engenheiro de pesca e assessor da presidência da Companhia, Albert Bartolomeu Rosa.

“A pesquisa foi muito importante, mostrou que tem a possibilidade de trabalharmos com o caranguejo sem ter muita perda. A maioria dos catadores que participou da pesquisa concordou com a maneira porque valorizaria a produção e, com o pouco que a gente produzisse, o ganho daria para nos mantermos”, afirma o catador de caranguejo-uçá Marco Antônio dos Santos Costa, que trabalha há 33 anos catando caranguejo na região do Delta do Parnaíba. “É a nossa fonte de vida. É da minha profissão de catador e pescador que desde os 16 anos tiro o sustento da minha família”, diz.

Os caranguejos extraídos dos mangues são amarrados em conjuntos de quatro unidades em“cordas”, que são agrupadas em dez unidades, formando o que é conhecido como “cambada”.Após a captura, os caranguejos ficam expostos ao sol, a altas temperaturas, sendo umedecidos com frequência e cobertos com folhagens extraídas do mangue. Daí eles seguem para os portos, onde são transferidos para caminhões que realizam o transporte para outras localidades. Os caminhões são carregados com cerca de três ou mais toneladas de caranguejo, amontoados em pilhas de mais de um metro, cobertos por lona, sem refrigeração, e são transportados por cerca de 350 a 500 km até as cidades de destino.

“Basicamente, a Codevasf buscou criar uma alternativa à forma como o caranguejo chega atualmente ao mercado. Atualmente, eles ainda são transportados em carrocerias de caminhonetes e caminhões, empilhados em colunas que chegam a superar um metro de altura, ao ponto que, considerando todo o processo, desde a captura até a chegada ao mercado, as perdas superam 50%”, explica o engenheiro de pesca da Companhia.

Durante o projeto-piloto – como alternativa para reduzir a mortalidade que ocorre ao longo da cadeia produtiva e criar produtos com maior valor agregado – foram desenvolvidos e testados nove produtos, examinados e avaliados quanto à metodologia de processamento, aos parâmetros químicos, microbiológicos e sensoriais obtidos e à aceitabilidade de consumidores em testes nos restaurantes. Um dos resultados do projeto foi a publicação do livro“Industrialização do caranguejo-uçá do Delta do Parnaíba”, editado pela Codevasf.

A tecnologia desenvolvida pela Companhia durante o projeto-piloto – que contou com consultores internacionais com experiência em industrialização de caranguejos, mesmo sendo de espécies diferentes da existente no Delta do Parnaíba – está disponível para os empreendedores interessados em fortalecer a atividade extrativista e contribuir para a organização e a sustentabilidade dessa importante cadeia produtiva da região Nordeste.

“Ela vai ajudar a preservar a espécie no mangal, porque vai ter mais caranguejo; vamos catar selecionando os caranguejos, somente os grandes, os mais graúdos; vai valorizar o preço; e não vai ter tanta perda caranguejo. Vai ter mais caranguejo e nós vamos ganhar mais com o pouco que produzirmos, com um caranguejo de maior qualidade”, comenta o catador Marco Antônio dos Santos Costa.

Além de empresários da região que estudam implantar a tecnologia em escala de produção, a iniciativa da Codevasf chamou a atenção da produtora de cinema e TV Gullane. A empresa, responsável por filmes como “Carandiru” e “O ano em que meus pais saíram de férias”, está produzindo o documentário “Costa do Brasil” para mostrar a diversidade brasileira. Com cinco episódios – que devem ser exibidos no início de 2014 pelo canal Arte, na França, e depois pelo Canal Brasil –, a história dos catadores e da industrialização do caranguejo-uçá no Delta do Parnaíba, apoiada pela Codevasf, deve ser um dos destaques do documentário.

Parcerias
A Codevasf executou o projeto-piloto de industrialização de caranguejo-uçá da Planície Litorânea do Parnaíba – com base na tecnologia de industrialização empregada no Chile para outras espécies de caranguejos – com recursos da Secretaria de Programas Regionais do Ministério da Integração Nacional e em parceria com a Fundação de Educação, Cultura e Desenvolvimento Tecnológico (Fundetec) e o Instituto Ambiental Brasil Sustentável (IABS).

Também participaram do projeto a Associação dos Catadores de Caranguejo Delta-Uçá, que forneceu a matéria-prima, e a empresa SECOM Aquicultura, Indústria e Comércio S.A., onde foram elaborados os produtos com todas as exigências requeridas pelo Serviço de Inspeção Federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Para estruturação e sustentabilidade da atividade, a Codevasf construiu o Centro de Recepção e Comercialização de Caranguejos do município de Ilha Grande (PI), em parceria com o Governo do Estado do Piauí; realizou o microzoneamento ecológico-econômico da Planície Litorânea do Parnaíba, por intermédio da Fundação Sousândrade de Apoio ao Desenvolvimento da Universidade Federal do Maranhão; e realizou estudo para avaliar o potencial de industrialização de caranguejo no Delta do Parnaíba, com financiamento do Ministério da Integração Nacional.

Transporte adequado
A unidade Meio Norte da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou o uso de caixas de plástico (monoblocos) com esponjas úmidas como alternativa para o transporte dos animais vivos para evitar a desidratação dos caranguejos e proporcionar melhores temperaturas durante o transporte, melhorando os índices de sobrevivência e rendimento do produto.

Em julho deste ano, o Ministério da Pesca e Aquicultura estabeleceu, por meio de instrução normativa, padrões e normas de acondicionamento adequado para o transporte terrestre e aquaviário de carga viva de caranguejo-uçá nos estados do Pará, Maranhão, Piauí e Ceará. Além de cadastro no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os responsáveis pelo transporte terrestre devem acondicionar os caranguejos desamarrados em caixas plásticas vazadas, forradas com espuma de acolchoamento embebida em água; e em caixas plásticas vazadas, sacos, paneiros, peras ou acomodações que garantam a sobrevivência dos animais no transporte aquaviário.


Edição do Jornal da Parnaíba | Fonte: Codevasf

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