quarta-feira, 2 de maio de 2012

A arte do marisco em Ilha Grande








No dia 21 de abril de 2012, saíram canoas com rabeta e a remo do Porto dos Tatus, às 9 h, levando um grupo de marisqueiras, seus companheiros e técnicas da Comissão Ilha Ativa – CIA. Em cada uma ia em média 4 a 6 pessoas. O que determinava o horário da saída e do retorno era como se encontrava a maré. Quando a maré se encontra secando determina a ida e quando a maré está enchendo sinaliza o retorno. O percurso se deu indo pelo rio Tatus, em seguida pegou um braço do Parnaíba, chegando propriamente ao rio Parnaíba, no destino a Croa do Zé Bispo. O tempo total de viagem foi de 30min.
foto: Daniele Lopes e Francinalda Rocha
O primeiro preparativo para a cata ao descer da canoa é ficar atentos ao pisar no chão para evitar o contato com arraias. Para isso, as marisqueiras ensinam que se deve tocar na água antes de pisar para afastar esse inimigo natural das marisqueiras, pois com a esporada desse animal poderá levar a pessoa a ficar dias sem ir a cata do marisco. O segundo preparativo é como se fosse o seu Equipamento de Proteção Individual, pois passam a usar camisas de manga comprida, brilho nos lábios, chapéu e óculos escuros para se proteger do sol. Ficam ainda mais belas, pois não perdem a naturalidade feminina.
A cata do marisco acontece com a ajuda dos pés e das mãos na lama (água misturada com areia ou barro) e se dá com a utilização do petrecho de pesca denominado landuá (instrumento feito com uma pequena rede que fica segurada a um galho de planta de maneira oval). Este é confeccionado pelas próprias mulheres, seus esposos são quem geralmente pegam a madeira, que pode ser de carrasco ou de mufumbo. Pegam a madeira ainda verde, que deve ser amarrada e colocada pra secar. Sua rede é feita com linha nylon/12 que é confeccionado da mesma maneira que uma rede de pesca, só que este é de tamanho menor.
E passam horas na água fazendo o mesmo trabalho incansavelmente para encher os sacos com marisco. Cada catadora quando necessário poderia tirar de 2 a 4 sacos de 30 kg.Quando a maré esta baixa, a canoa não pode ficar tão perto, então elas enchem baldes com 5 ou 10 kg ou mesmo os sacos e, só depois,os levam às embarcações.
Durante o fim de semana (dia de nossa visita) não se vê muitas pessoas nas croas a catar, elas realizam mais durante a semana, mas nesse dia tinham 26 pessoas representadas por mulheres, homens e crianças que acompanhavam suas mães. E durante a semana pode ser encontrado em média de 20 a 25 canoas com pessoas catando marisco.
Depois de 3 a 6 horas de cata ( esse tempo é determinado quando enchem os sacos que levaram para o campo) todos recolhemsua canoa e seus materiais e vão para terra firme para fazer a “sapeca” (termo utilizado pelas marisqueiras que significa parada para alimentação) alguns levam frutas, farofas de marisco, frango, ovo e, ainda pescados (peixe e camarão) para assar na brasa. É um momento festivo, pois cada um leva para o banquete o que trouxe e divide com todos. A escolha do local é feito na hora e sem ser combinado se transforma em um buffet natural onde cada um se serve a sua maneira compartilhando não só o alimento, mas a amizade, as conversas e o dia a dia.
Ao retornar ao Porto dos Tatus é descarregado sacos, baldes e canoas e ainda é aproveitado o momento para um bom banho de rio para retirar o barro que ainda veio no corpo. Para levar o produto da cata para casa é transportado em bicicletas, carro de mão e carroças.
foto: Daniele Lopes e Francinalda Rocha
O processo não termina ai. Ao chegar em suas casas os mariscos são colocados numa lata com um pouco de água e levados ao fogo, depois de 20 mim (depende do tempo de fervura) as cascas já estão abertas. Daí levam para uma tina e depois para uma peneira grande (confeccionada pelas marisqueiras), onde com movimentos fortes o marisco é separado da casca que caem em cima de uma lona (processo ainda muito artesanal). Finalmente são colocados em uma bacia e vão ser tiradas as cascas que porventura ainda estejam. O produto é então armazenado em sacos de 1kg e acondicionados em freezer.
“A nossa maior dificuldade é que tiramos o marisco e não tem pra quem vender. Aí a gente fica com nosso marisco empancado, esperando pelo comprador, que não vem. Passam 20 dias sem pagar a gente e é complicado. Nessas condições nós ficamos paradas, esperando que chegue um filho de Deus para comprar nosso marisco.
Quem quiser comprar o marisco deve ir aos Tatus, em Ilha Grande e procurar o Sr.Tatuzinho”,disse D. Luísa,presidente da Associação de Catadoras de Marisco de Ilha Grande.
matéria enviada por:
Daniele Lopes
Francinalda Rocha

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...