sábado, 17 de outubro de 2015

A santa que não sabe ganhar dinheiro

Por:Pádua Marques (*)
Aqui nas minhas orações de final de semana por ocasião do Dia das Crianças e do feriado, na verdade dia santo, de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, passei a imaginar como existem coisas no mundo que perdem uma excelente oportunidade de serem importantes porque situações ou pessoas atrapalham. Uma delas é a do santuário de Nossa Senhora Mãe dos Pobres e Senhora do Piauí, aqui na biqueira da casa, em Ilha Grande.
Tudo que é cristão neste mundo sabe a devoção dos brasileiros pra alguns santos. São Francisco de Assis, Santo Antônio, São Pedro, São Sebastião, Santo Expedito, São Judas Tadeu. A fila é grande. No Nordeste tem uma cidade inteira no sertão do Ceará que venera e tem sua economia baseada no chamado turismo religioso, Canindé. No Piauí, no meio do mato, aonde só vai quem, como diria, tem muito sangue no olho, tem uma cidade criada e crescida em cima de um mito religioso, Santa Cruz dos Milagres.
Eu nem vou me dar ao trabalho de ficar me cansando numa fila pra tirar passaporte na Polícia Federal, me endividar comprando euros e dólares pra me tacar daqui pra Portugal conhecer e venerar o santuário de Fátima, nem muito menos o de Lourdes, na França se aqui pertinho, só caso de atravessar a ponte Simplício Dias, cair dentro do santuário de Nossa Senhora Mãe dos Pobres do Piauí. Se for pra pedir ajuda à Nossa Senhora pra aliviar todas as minhas dificuldades eu fico por aqui mesmo e peço à santa de casa.
Acontece que muita gente só de ouvir falar do santuário construído dentro da cidade de Ilha Grande fica com vontade de conhecer. Quer ver de perto pra depois comparar com o de Aparecida do Norte, em São Paulo, lugar de peregrinação de milhões e milhões de brasileiros e estrangeiros o ano inteiro. Mas a decepção ao chegar ao local é maior que a fé e a curiosidade trazidas. Não sei o que acontece com aquela gente e com aquela cidade que o santuário acabou se transformando foi num local abandonado e, com licença da palavra, mal assombrado.
Toda cidade que tem santuário: Lourdes na França, Fátima em Portugal, Guadalupe no México, Jasna Góra, na Polônia tem uma renda a partir deste turismo que movimenta milhões de peregrinos em todo o mundo. No Brasil, o de Aparecida em São Paulo. Aí me aparecem uns padres italianos e constroem a muito custo o santuário de Nossa Senhora dos Pobres do Piauí, na pequenina e insignificante cidade de Ilha Grande. Mas até hoje eu não sei por que diabos esse santuário não engrenou!
E fico eu aqui neste meu silêncio do Dia de Nossa Senhora Aparecida a imaginar se essa gente ali de Ilha Grande saísse daquela preguiça tão desgraçada, preguiça de ficar olhando pros pés o dia inteiro e, fizesse uma imensa campanha pra colocar este santuário num roteiro turístico nacional e até internacional! Por que não? Parasse de achar que o turismo ali tem de ser só andar de barco no delta o dia inteiro e comendo caranguejo.  Ainda tem muita gente que gosta de rezar, conhecer atitudes de crenças religiosas, ver santos, se ajoelhar e caminhar feito peregrino. Gente que gosta de levar na volta pra casa uma lembrancinha, a imagem de um santo de sua devoção, uma fitinha benta, uma camiseta com a estampa do santo, essas coisas. Que é que tá faltando? Tá faltado fé ou coragem?
E nem adianta vir me dizer que este não é o objetivo do santuário de Nossa Senhora dos Pobres e Senhora do Piauí! Em tudo que é lugar do mundo onde tem devotos se vende de um tudo. E por que só aqui é que é pecado, é coisa feia, coisa do capiroto? Eu só queria levar puxando pela orelha até o Canindé, no Ceará, esses advogados, esses doutores e técnicos mal esclarecidos sobre o turismo religioso, pra eles verem e aprenderem como a coisa funciona! Porque olhando aquele lugar tão abandonado dá pra imaginar que a santa é que não sabe ganhar dinheiro.

(*)Pádua Marques é jornalista e escritor

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