quarta-feira, 27 de agosto de 2014

RENDEIRAS DO DELTA



Fazer renda é ofício antigo, do tempo em que as avós teciam debaixo das árvores dos quintais. Assim acontecia, décadas atrás, nos Morros da Mariana no município Ilha Grande do Piauí, localizado a 7 km de Parnaíba e a 337 km de Teresina. Hoje, as herdeiras dessa arte tradicional são artesãs organizadas na Associação das Rendeiras dos Morros da Mariana, mais conhecida como Casa das Rendeiras. Pela segunda vez, a entidade é uma das premiadas do Prêmio Top 100 de Artesanato, promovido pelo Sebrae Nacional.

Dez artesãs se envolveram na produção das três peças que trouxeram o prêmio, dessa vez, para a associação. São elas: uma blusa com flores de camélia brancas em renda de bilro; uma gargantilha preta de cogumelos também em renda de bilro; e uma toalha de lavabo em tecido e renda viramundo de bilro.

Na primeira vez em que a associação foi agraciada com o mesmo prêmio, em 2006, a realidade da entidade era outra, segundo Maria do Socorro Reis Galeno, atual presidente da Casa das Rendeiras. As artesãs trabalhavam em suas casas e a falta de uma sede atrapalhava as vendas dos belos produtos feitos por elas, sendo a maioria em renda de bilro.

“Hoje somos vinte e um grupos com vinte artesãs em cada um. Todos os dias tem gente trabalhando na sede nova, de manhã e de tarde”, informa Socorro. A Casa das Rendeiras se tornou atração turística de Ilha Grande do Piauí. O Governo do Estado vai instalar estacionamento com lanchonete ao lado da Casa das Rendeiras para facilitar o acesso dos turistas, conta ela.

Marisa Letícia Lula da Silva, ex-primeira-dama,  é considerada a grande divulgadora da Casa das Rendeiras de Ilha Grande do Piauí, por ter usado vestido assinado pelo estilista Walter Rodrigues, feito com mil e quinhentas delicadas flores de camélia em renda de bilro, tecidas pelas artesãs da associação. Uma foto da primeira dama com o vestido, encomendado especialmente para a cerimônia de posse do presidente Lula, em seu segundo mandato, fica exposta solenemente numa das paredes da sede da entidade, com dedicatória assinada por ela.

O vestido da primeira dama gerou a encomenda de vários vestidos de noiva com as mesmas flores de camélia para o Estado de São Paulo. Em geral são necessárias mil e trezentas flores para cada um deles. Outra encomenda especial, que Socorro gosta de comentar, é a da roupa de batismo que foi feita para Sofia, filha da atriz Claudia Raia. A estilista de moda Clô Cronemberg, radicada em Paris, é outra cliente especial da associação. Para ela, as artesãs produzem mandalas em renda de bilro, que são vendidas na capital francesa.

Valter Rodrigues é o eterno consultor da entidade, segundo Socorro. A luta das artesãs dos Morros da Mariana começou em 1992, quando foi fundada a associação, mas só depois que o Sebrae levou o estilista para realizar uma capacitação ‘in loco’ de três dias foi que os produtos adquiriram força e estilo, segundo a presidente da entidade. Ele prestigia sempre a Casa das Rendeiras e já retornou três vezes para visitar a entidade, dar consultoria e fazer encomendas.

“Participamos do São Paulo Fashion Week com ele em 2002”, lembra-se Socorro. A divulgação do trabalho das artesãs de Ilha Grande do Piauí nas passarelas do evento de moda na capital paulista rendeu e continua rendendo boas vendas para a associação.

Socorro diz que depois de tantos cursos e consultorias propiciadas pelo Sebrae Nacional e pelo Sebrae no Piauí, a entidade se tornou capaz de passos maiores. “Estamos mais unidas, produzimos mais e estamos sempre criando peças novas”, conta. "O Prêmio Top 100 é importante porque divulga o trabalho de muitas associações do interior do País. Essas entidades precisam ser reconhecidas e divulgadas", acrescenta a artesã.

“As vendas estão muito boas, depois que viemos para a sede nova. Vendemos tudo que produzimos no final do ano passado”, revela. Foram mais de 3 mil peças, segundo Socorro. Caminhos de mesa, toalhas, marcadores de livro, gargantilhas, flores, entre outros, compõem a diversificada produção da Casa das Rendeiras. Perguntada sobre a remuneração das artesãs, ela diz que está cada vez melhor. “Ganha mais quem produz mais”, diz ela. E ri, satisfeita.

http://casadasrendeirasilha.blogspot.com.br/

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