O passado parece falar através das fachadas antigas do Porto das Barcas.
A história aflora nas pedras que ergueram as alvenarias impregnadas do trabalho, do suor e do sangue dos escravos construtores. Ali, pedras enormes foram empilhadas e unidas com o cimento da época; argamassa composta de óleo de baleia e ostras piladas.
Porto das Barcas é uma daquelas paisagens onde a mão do homem misturou, no passado, o natural com as construções, sem destoar daquilo que a natureza local ofereceu. Essas construções deixaram sua marca histórica e hoje parecem falar sem pronunciar palavras. Este conjunto de prédios antigos desperta sentimentos íntimos no visitante observador. Há paisagem, como essa do velho Porto das Barcas que parece ter alma e esse fato sussurra aos nossos ouvidos a poesia do tempo e a história das lutas de gerações passadas.
A história, estampada nas fachadas mexe com a imaginação e a fantasia do visitante e como num filme, traz de volta, costumes de uma época onde as sinhás e os senhores transitavam e aguardavam os entes queridos que aportavam vindo das fazendas ou cidades vizinhas.
O Porto das Barcas, com seu velho guindaste ainda conservado, nos reporta também ao movimento de carga e descarga das embarcações e ao trabalho dos escravos levando e trazendo até os armazéns as mercadorias dos seus senhores. O tempo passou e deixou a marca do antigo e as pegadas de uma geração que se foi, mas deixou sobretudo sua contribuição na arte segura da alvenaria de pedra e no robusto madeiramento dos telhados e portais.
O Rio Igaraçu, outrora navegado, hoje está assoreado, confirmando que a mão destruidora do homem desmatou suas margens como tem acontecido em lugares onde aportou aquilo que passaram a chamar impropriamente de “civilização”. Que Deus nos ajude e não permita transformar esse bonito pedaço da natureza em um outro “Esgoto Tietê”, como ocorre num outro Estado “mais civilizado” que o Piauí. Até torcemos para que esse falso progresso não chegue a bela cidade de Parnaíba e que o sentimento dos seus moradores os leve a conservar a beleza sem igual ali encontrada.
O Igaraçu é afluente da margem direita do Rio Parnaíba, esse último, chamado poeticamente de“Velho Monge” pelo poeta piauiense Da Costa e Silva.
Na visita ao município de Parnaíba tivemos a felicidade de conhecer também o Delta do Rio Parnaíba onde valeu a pena observar e se deleitar com uma natureza ainda virgem e pouco tocada. A paisagem é inesquecível e a flora e fauna que ainda povoa aquele ambiente natural é algo que marca. Em todos nós ficou a boa lembrança e o desejo de voltar aquele lugar.
O Delta nos empolga pela sua grande extensão e a embarcação que nos levou até o limite do rio com o oceano, mostrou uma visão impressionante da natureza local. Aquela paisagem marca qualquer visitante da mesma maneira que marcou a mim e a minha família. O visitante lembrará por algum tempo, com certeza, daquele mundo de água doce e da paz ali encontrada. As imensas dunas de areia clara e os mangues, berçário de tanta vida marinha e fluvial nos transporta a um lugar único e tão pouco conhecido desse nosso país continental.
O Rio Parnaíba ao longo do seu percurso tornou-se, por decisão política, o divisor natural entre os Estados do Piauí e Maranhão.
O passeio continuou e finalmente após percorrermos alguns igarapés e um mar de água doce na direção do mar, nos deparamos com a foz desse grande rio do Nordeste e o Oceano Atlântico banhando a costa do Piauí e do Maranhão. Ancoramos em algumas dunas que formavam ilhas e o imenso Delta se misturava com o mar, indefinindo onde começava um e terminava o outro. A tardinha retornamos ao porto de partida, e o imenso Delta havia ficado para trás deixando nos nossos olhos as imagens de um grande dia.
Segundo informação do nosso guia, no Delta há uma grande quantidade de Igarapés e braços de rio e levaríamos muito tempo para conhecermos todos eles. Por isso foi escolhido uma rota predefinida e conhecemos uma pequena parte desse imenso Delta.
Voltamos à tardinha, desse lugar fabuloso com a sensação que o paraíso é ali.
Por Gilson Leite de Moura 19/01/2014.
E-mail: gilsonleite44@hotmail.com
Edição do Jornal da Parnaíba
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