Olha ai Quero ver quem pega esse peixe...
Peixe Quatro Olhos, ele enxerga pássaros e ameaças do fundo do rio. Pescadores do Delta do Parnaíba dizem que o peixe só morre pela velhice. Cardume costuma nadar na superfície da água e parece não ter medo de predadores.
Um gigante genuinamente brasileiro leva vida por onde passa. Mil e quinhentos quilômetros. Nem é possível pensar o Piauí sem o rio cheio de vida: O velho monge. O Rio Parnaíba.
Dunas que avançam em direção ao rio e aos povoados da região levadas pelo vento. Manguezais com árvores de até 30 metros de altura e uma biodiversidade que abriga centenas de espécies em 80 ilhas, no único delta das américas que deságua no Oceano Atlântico: O Delta do Parnaíba, bem na divisa do Maranhão com o Piauí.
O Rio Parnaíba chega ao Delta caudaloso, soberano. E se espalha por 2700 quilômetros quadrados. Começamos a explorar o Delta pelo imenso manguezal. Um lugar cheio de animais e uma vegetação bem preservada. Árvores com mais de 30 metros de altura. E um emaranhado de raízes. Os Igapós são canais mais estreitos que são formados de acordo com a maré. Como está localizado bem perto do mar, quando a maré enche ele fica mais alto. Quando baixa, o nível fica bem rasteiro, com dificuldade até para uma canoa a remo passar. E é assim, o tempo todo, ao lado das raízes do manguezal. Vamos tentar ver a fauna que existe nestes lugares bem escondidos do delta.
Um macaco prego bem jovem vê o companheiro de bando pular, mas hesita. Parece com medo de arriscar. Até que finalmente toma uma decisão e pula. O próximo da fila está ainda mais indeciso. Balança o galho. Mexe a cabeça para baixo e para cima. Um esforço para o galho ceder e assim ficar mais próximo de outra margem. Mas não tem jeito, só resta é tomar coragem e pular. Um por um, eles chegam onde querem.
Depois de uma breve parada, seguimos pelo Igapó. Próximo à margem do manguezal, um cardume chama a nossa atenção. Os peixes nadam bem na superfície da água e parecem não ter medo de predadores. E logo descobrimos porquê. O nosso guia Zequinha explica.
“Porque ele é um peixe muito rápido. Eles é rápido demais, é difícil capturar ele. Porque ele tem quatro olhos, são dois olhos olhando para baixo e dois olhando para cima. A parte de cima fica atenta aos pássaros e a de baixo às ameaças que vem do fundo do rio”, explica o guia José Divaldo de Souza Silva.
É por isso que os pescadores do Delta dizem que ele só morre mesmo é de velho. Ninguém consegue pegar. No caminho, a equipe do programa passa por vários pescadores.
Globo Repórter: Bom dia amigo, o que você consegue pescar aí?
Carlos: Camarão, camarão da água doce.
Globo Repórter: Tão vivos ainda?
Carlos: Tão, tão tudo vivinho.
Carlos conta que é a rotina de todo dia. Passa nas armadilhas para buscar os camarões e trocar a isca. Carlos diz que o camarão diminuiu muito.
Dez anos atrás, uma armadilha pegava um quilo a cada retirada. “É porque é muita gente que pesca o camarão. De primeiro era pouca gente que pescava o camarão”, conta o pescador.
Os pescadores dizem que falta serviço na cidade, e por isso muita gente vem para cá. Inverno ou verão.
Globo Repórter: Dá para viver do camarão?
Carlos: Tem que ir passando como dá. Dá para ir passando. Não é bem, mas dá.
E a equipe sai para procurar mais macaco. Um outro bando de macacos encontrou uma forma bem mais fácil de atravessar o Igapó. O tronco de uma árvore é a ponte que eles precisavam. Mais adiante, no alto de uma palmeira avistamos mais um. Aí já é outra espécie de macaco. O macaco Bugiu. Que se adaptou no ecossistema do Delta.
Globo Repórter: O que ele está comendo, Nonato?
Nonato: Ele está comendo dendê.
Os Bugius ou Guaribas ficam nas árvores mais altas. E são excelentes acrobatas. Mas os mais numerosos são mesmo os macacos pregos. Mais adiante outro grupo, procurando comida entre as raízes.
Os macacos do mangue são da espécie prego. O chefe do bando fica revoltado com a presença da equipe do Globo Repórter. E tenta puxar um pau para mostrar que é forte. É o líder do grupo.
Eles se alimentam de pequenos frutos e comem até caranguejos, mas eles não são os únicos. Quatrocentos moradores e suas famílias sobrevivem de catar caranguejos.
Globo Repórter: E vale a pena passar a manhã toda na lama para tirar tão pouco?
Catador de caranguejo: Rapaz, vale. Aqui dá pra arrumar R$ 50. Dá pra ir se mantendo.
Catador de caranguejo: Rapaz, vale. Aqui dá pra arrumar R$ 50. Dá pra ir se mantendo.
Hoje os catadores estão mais conscientes. Para não faltar no futuro, procuram apenas os machos. Deixando as fêmeas para reprodução.
Um dos catadores de caranguejo mostra que a fêmea tem a barriga mais larga. E depois mostra o macho. “O macho é este aqui, tem um umbigo fino e este tem o umbigo largo”, explica Raimundo.
Depois do trabalho, eles se lavam no rio antes de voltar para casa. Para quem vive da pesca no Delta, a falta de consciência ambiental já ameaça o seu ganha-pão.
Além do aumento da população e do aumento dos pescadores, a região não está mais suportando a quantidade de pescadores e a forma que está sendo capturado esse pescado, seja camarão ou seja peixe.
Disponível em: http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2013/10/peixe-com-quatro-olhos-enxerga-passaros-e-ameacas-do-fundo-do-rio.html
Edição do Jornal da Parnaíba
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