O que é urgência? O que é emergência? O que é ambulatório? O que é consulta? Essas são indagações que se bem respondidas e esclarecidas poderiam reduzir os desentendimentos entre médicos e pacientes.
Desde o momento que o serviço de pronto-atendimento do serviço público de Parnaíba/PI passou a ser realizado no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (HEDA), este assumiu a responsabilidade de resolver e/ou encaminhar as urgências/emergências desta cidade. No entanto não basta apenas ter o prédio e profissionais médicos para que tudo possa ser resolvido. Toda uma infraestrutura tem que estar presente, desde o material de limpeza e desinfecção, até os complexos equipamentos cirúrgicos, passando pela necessidade de outros serviços como laboratório e radiologia, do suporte de unidade de terapia intensiva, e também dos profissionais treinados de todas as outras áreas envolvidas no atendimento direto (enfermeiros/nutricionistas/fisioterapeutas...) e indireto (cozinheiros/zeladores/vigilantes...) dos pacientes.A estrutura física do HEDA não foi projetada para a atual demanda e mesmo com todos os esforços da atual diretoria e de todos os profissionais do hospital, o mesmo está passando um momento de difícil solução em curto prazo. Os pacientes procuram o serviço e querem ver seus problemas resolvidos. Não lhes interessa os fatos que levaram a atual situação. No entanto alguns desses fatos precisam ser esclarecidos e informados ao público para que não sejam cometidas injustiças com os profissionais,
principalmente os médicos, que são os mais cobrados.
Um fato que leva os pacientes a fazerem suas queixas frequentemente vem da constatação de que para cada indivíduo a sua própria enfermidade é sempre mais urgente que a de qualquer outra pessoa dentro do hospital. Então vamos responder às indagações do primeiro parágrafo. Segundo o Conselho Federal de Medicina, a urgência seria a ocorrência imprevista de um agravo a saúde em que há ou não um risco potencial de morte. Neste caso o portador necessita de assistência médica, mas aqui, ao contrário das emergências, o risco de morte não é iminente. Nas urgências o paciente não pode esperar uma consulta ambulatorial, pelas dores, mal-estar ou agravos à sua saúde, mas não está correndo um risco de morte naquele momento. Por exemplo, cólica nefrética, entorses, luxações e alguns tipos de fraturas são exemplos de urgências.
Já a emergência seria a constatação médica de condições de agravo à saúde que geram um risco iminente de morte ou sofrimento intenso, exigindo, portanto, tratamento médico imediato. Ou seja, neste caso o paciente não pode esperar! Podemos citar como exemplo uma parada cardiorrespiratória ou uma hemorragia. Em geral, os pacientes que necessitam de urgência são atendidos por ordem de entrada, ao passo que numa emergência o atendimento deve ser imediato, assim que o paciente chega ao hospital.
Para isso foi criado o serviço de acolhimento com classificação de risco para identificar, seguindo as normas do Ministério da Saúde, as urgências e emergências, separando daqueles casos tipicamente ambulatoriais.
Mas nem sempre o motivo das consultas no HEDA são urgências ou emergências. Mas por que isso acontece? Por que a população procura os serviços de urgência, mesmo por motivos mais simples? A falta de resposta dos serviços ambulatoriais, como os postos de saúde da Estratégia Saúde da Família (ESF), que não conseguem atender toda a essa demanda induzem os usuários a procurar outros serviços,
cujas portas não podem ser fechadas, para ver seus problemas solucionados. É muito comum pacientes com apenas estado gripal, dores na garganta, problemas de pele, e até mesmo querendo entregar exames, procurarem o atendimento no HEDA. Muitos fazem dessa forma por não ter outro serviço que possa dar solução aos seus problemas. Esses pacientes somados aos que de fato são urgências e emergências superlotam o atendimento do Pronto Socorro do HEDA, fazendo com que muitas vezes haja demora
no atendimento e liberação dos mesmos.
Isso por si só já leva a insatisfação da população, que acaba transferindo essa insatisfação para os profissionais médicos, que não tem culpa das falhas do sistema. É muito comum ver queixas contra ortopedistas, obstetras, e cirurgiões pela demora no atendimento, quando eles estão geralmente em procedimentos cirúrgicos de urgência e que por vezes levam horas para terminar, e quando retornam, já cansados, ainda tem que dar conta de todos os pacientes, já impacientes e com feições nada amistosas, que
ficaram aguardando para serem atendidos. São esses pacientes e, principalmente, seus acompanhantes e/ou familiares que enchem a ouvidoria de reclamações.
As emergências são prontamente atendidas e cirurgiadas e/ou internadas na UTI se for o caso. Mas os problemas aumentam quando os pacientes são atendidos pelas urgências e em seguida internados. Todos os médicos lotados no HEDA no regime de plantão são urgentistas e não tem a obrigação de retornar ao hospital até o próximo plantão da escala. Então é muito comum principalmente na ortopedia, isso ocorrer. Pelos protocolos do CFM e das Associações de Ortopedia uma fratura fechada pode ter seu tratamento cirúrgico, a depender do caso, realizado em até trinta dias. Claro que só pelo fato de isso ser possível, não deve ser feito assim. No entanto para realizar qualquer ato cirúrgico deve-se inicialmente ver as condições clínicas do paciente, e para isso é necessário ser realizados vários exames pré-operatórios e o risco cirúrgico pelo cardiologista. Os exames não são imediatos pela própria natureza dos mesmos, e o
cardiologista não é plantonista, dando esse parecer nos dias que lhe foram acordados para tal. Então obrigatoriamente o ortopedista já tem que esperar essas informações para realizar a cirurgia. Além disso, o procedimento para ser realizado depende também de outros fatores, pois mesmo com a cirurgia já programada, muitas vezes é comum chegarem outros pacientes mais graves, com fratura exposta, por exemplo, e ocuparem o centro cirúrgico contaminando a sala. Também temos que considerar que o centro
cirúrgico não é só para a ortopedia, lá também são realizadas cirurgias gerais e obstétricas que também tem suas emergências e podem ocupar as salas cirúrgicas.
Não bastasse todas essas dificuldades do próprio serviço, hoje se enfrenta uma nova situação que agravou ainda mais essa realidade. Não há nenhum hospital de referência para o encaminhamento desses pacientes para a realização das cirurgias de fratura fechada e tampouco dar continuidade ao tratamento no pós-operatório. Além disso todos os casos obstétricos de risco passaram a ser atendidos no HEDA. Isso está
fazendo com que fique superlotado o hospital. Não houve tempo hábil para o hospital se preparar para esse volume de atendimentos. Houve incremento na demanda, mas não houve ampliação do número de leitos/enfermarias e das salas cirúrgicas. Assim sendo, nesse momento atual, o número de reclamações só tende a aumentar, mas volto a frisar:
nada disso é culpa dos profissionais médicos, que estão desempenhando seu papel de forma a dar o melhor atendimento possível a todos os usuários que chegam ao hospital. Medidas já estão sendo tomadas para contornar essa situação, mas até lá é necessário um pouco de compreensão da população, pois não é denegrindo a imagem da classe médica que terão seus problemas resolvidos. Ao contrário, essas queixas direcionadas equivocadamente só tendem a desestimular os profissionais.
A diretoria do hospital tem estado em contato constante com a Secretaria Municipal de Saúde do município de Parnaíba/PI, bem como com a própria SESAPI, buscando encontrar soluções para tentar, no mais breve espaço de tempo, contornar todos esses problemas e dar uma resposta positiva à população.
Dr. Mário Benjamim de Carvalho Baptista
Diretor Geral do HEDA
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