A criação de abelhas nativas como opção de renda no Delta
A criação de abelhas nativas como opção na geração de renda para as populações do Delta do Parnaíba.
No Brasil, existem mais de 300 espécies de abelhas sem ferrão, distribuídas por todo o território brasileiro, e em grande parte de toda a faixa tropical e subtropical do planeta. Encontramos meliponídeos nas Américas desde o norte do México até a região central da Argentina.
Sua criação, denominada de meliponicultura, favorece a preservação das plantas nativas, devido à polinização das flores pelas campeiras, abelhas coletoras, além da produção de um mel diferenciado e com características próprias. Ao se movimentarem sobre as flores em busca do pólen, as abelhas promovem a fertilização das plantas, assegurando a sua multiplicação e perpetuação. Seus criadores colhem, indiretamente, os efeitos da polinização: maiores e melhores frutos e sementes, e a produção do mel das colônias, conseqüente desta atividade de coleta.
Além da importância das abelhas nativas na manutenção dos diversos ecossistemas, uma vez que existe um processo evolutivo atrelado e dependente da presença dessas abelhas para a reprodução de diversas espécies vegetais, inúmeras espécies de abelhas sem ferrão existentes no Brasil, apresentam enorme potencial para a produção de mel, como as espécies conhecidas popularmente como tiúba, jandaíra, uruçu, etc.
Apesar do seu potencial produtivo, essas espécies ainda são pouco exploradas comercialmente, considerando seu enorme potencial de criação. Embora a sua capacidade produtiva não possa ser comparada com a produção de mel das abelhas africanizadas, seu mel apresenta maior valor agregado, além da possibilidade de sua criação poder ocorrer próximo das moradias e permitir a participação de todos os membros do módulo familiar, como jovens e mulheres, uma vez que essas abelhas por não apresentarem ferrão, apresentam um grau de periculosidade menor, se comparado com o das abelhas africanizadas.
Os ecossistemas brasileiros possuem muitas características que favorecem a criação das abelhas, como é o caso dos manguezais. Dentre algumas características, podem-se destacar: clima quente; flora rica em espécies fornecedoras de néctar, pólen e resina; floração mais distribuída ao longo do ano e a presença natural de inúmeras espécies de abelhas sem ferrão.
Embora, esse ecossistema apresente inúmeras características favoráveis à criação de abelhas, praticamente não existem estudos que visem à avaliação do seu potencial florístico, como pasto para as abelhas produtoras de mel.
A meliponicultura se enquadra perfeitamente dentro dos conceitos de diversificação e utilização sustentável dos recursos naturais, pois é uma atividade que pode ser integrada ao manejo florestal, plantio de fruteiras e/ou culturas de ciclo curto e, em muitos casos, pode contribuir no aumento da produção agrícola. É uma atividade que necessita de pouco investimento inicial e pode ser desenvolvida em pequenas propriedades rurais, além de permitir que o agricultor ou pescador familiar mantenha suas outras atividades já estabelecidas culturalmente, tendo na nova atividade um complemento de sua renda familiar.
Nas áreas de mangues existentes nas ilhas que formam o único delta em mar aberto das Américas, as populações locais já vêem explorando as abelhas nativas, embora de modo extrativista e predatório.
Por sua natureza palustre, impeditiva da ocupação humana, durante séculos este ambiente permaneceu relativamente preservado. Entretanto, vem sofrendo agressões pela exploração predatória, através de coleta e captura excessiva de caranguejos, moluscos e pescado, da extração da madeira para uso energético, para obtenção de tanino e material de construção, e do desmatamento para o cultivo de arroz e instalação de salinas.
A vegetação de mangue, apesar de se constituir num santuário ecológico, vem sendo dizimada gradativamente. Inicialmente, cedeu parte para a instalação de salinas e, atualmente, vem sendo cortada para instalação de roças de arroz, criação extensiva de gado e para a criação intensiva de camarão. Outra pressão que a vegetação do mangue vem sofrendo está relacionada com a atuação dos chamados "meleiros". As árvores com ninhos de abelhas são cortadas, sendo a parte do tronco onde se encontra o ninho levado para a comunidade, onde o mel será usado na fabricação de remédios e garrafadas, utilizadas para a cura de inúmeras enfermidades. Entretanto, na maioria dos casos, apenas a colônia é saqueada para a retirada do mel. Essa prática predatória apresenta um impacto negativo muito grande no ecossistema, uma vez que pela falta de conhecimentos, para a retirada do mel ou mesmo da colônia, as árvores com abelhas são cortadas, e muitas vezes as próprias abelhas morrem, pois, na ânsia de se coletar o mel, são retirados seus discos de crias, sendo simplesmente eliminados, em um verdadeiro saque predatório.
A prática dos "meleiros" pode causar danos irreversíveis na manutenção de inúmeras espécies, pois, diferentemente das abelhas africanizadas que dispõem de aparato defensivo muito eficiente e forte característica enxameatória, as abelhas sem ferrão se mostram muito mais vulneráveis a essa prática predatória, além de apresentarem uma condição de se recuperar após um saque, muitas vezes inferior ao das abelhas africanizadas.
Como resultado esperado do plano de gestão e diagnóstico sócio-econômico da APA do Delta do Parnaíba, sugere-se no programa: Manejo Sustentável, a implementação de atividades economicamente viáveis e sustentáveis, de geração de emprego e renda. Sendo assim, a exploração racional dos recursos naturais, por meio da prática da meliponicultura, se enquadra nos requisitos exigidos para as atividades exercidas em unidades de conservação como é o caso da Reserva Extrativista, RESEX do Delta do Parnaíba.
Nesse sentido, A Embrapa Meio-Norte por meio do Núcleo de Pesquisas com Abelhas - NUPA vem desenvolvendo um projeto de pesquisa, com o apoio financeiro do Banco do Nordeste, por meio do Fundeci, intitulado "Manejo Sustentável de Abelhas Nativas em Área de Resex no Delta do Parnaíba" visando preencher essa lacuna na geração de informações necessárias para a criação de abelhas nativas em manejo racional e sustentável, visando a disponibilização dessa tecnologia para a comunidade local, principalmente para os catadores de caranguejo, como opção de atividade para a geração de renda e consequentemente para a melhoria de suas condições de vida.
Esse projeto tem como um dos objetivos principais o levantamento da flora visitada por essas abelhas e que serve de base para a produção de mel. A identificação e classificação dessa flora específica, assim como a caracterização de seus tipos polínicos servirão de subsídio, juntamente com a análise físico-química dos méis produzidos ao longo do ano, para a devida caracterização desse mel, como forma de agregar valor ao produto final, que terá sua produção e extração devidamente orientada, conforme os preceitos das boas práticas de higiene alimentar. Além desses aspectos a serem estudados, está sendo conduzida também à avaliação de diferentes modelos racionais de colméias quanto ao desenvolvimento das abelhas e sua produção de mel. O projeto conta com a parceria técnica da Universidade Estadual do Piauí e da Universidade Federal de Pernambuco, além do apoio logístico do IBAMA.
O projeto completou um ano de execução e já conta com diversos meliponários já instalados, com um montante de aproximadamente 100 colméias entre 10 famílias envolvidas na criação dessas abelhas.
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